AQUÁRIO UNIVERSO? NEM REALMENTE VIVEMOS, NEM REALMENTE OUSAMOS NADAR…

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De novo, como outras vezes antes, um comentário vai virar outro post. E como não sê-lo se a maestria do Marco Pires nos convoca e nos toca a alma como uma pena-navalha que nos faz refletir e, refletindo, dar uma resposta para além do tamanho de um comentário? Enfim, vai aí reflexões, sentimentos e sensações provocadas a partir do post https://redehumanizasus.net/93139-universo-aquario.

Diz primorosamente o Marco: “Mas na prática, para além da razão, somos seres apaixonados. A violência é uma pulsão herdada da luta pela sobrevivência. Assim é que nos trucidamos por confortos, como o desperdício irracional de energia fóssil, como se ter um Smartphone fosse o mesmo que ter acesso à alimentação e água.

Travestimos facilmente esse impulso homicida. Ele se transforma na luta pela verdade transcendental que cremos estar representada por nossa convicção filosófica ou religiosa. Nos convencemos que nossa luta incessante contra outros seres humanos é uma luta da verdade contra a mentira, do bem contra o mal”.

Como não dizer que todo ódio é filho de um amor adoecido? De uma paixão que se converteu numa espécie de egolatria que nos dá a certeza que nunca poderíamos ter, a não ser fechando a vida em nossos próprios termos?  Que tipo de amor é este que ousamos transmutar em verdade, em nossa verdade, a ponto tal de trucidar todos aqueles que lançam dúvidas sobre aquilo que não podemos ter certeza? E o pior, damos a isto o nome de razão, de fé, de crença, de convicção, de certeza absoluta de sermos o tal e de termos sido escolhidos como o representante único de uma verdade que, às vezes, ousamos nomear de Deus.

Falamos em nome do bem, da verdade, do belo e, simplesmente, enfim, completamente alucinados, em nome de Deus, como se pudéssemos, vermes rastejantes, nos alçarmos a tais alturas.

Enfim, somos apenas filhos da mentira, daquela que nos contamos e nos convencemos e, em nome dela, ousamos vesti-la toscamente com os andrajos daquilo que nomeamos a Verdade.

A verdade não existe e, se existe, ela não pode ser dimensionada. Deveríamos notar no mundo ocidental, para aqueles que se supõem cristão, que à pergunta de Pilatos sobre “o que é a verdade?” Cristo silenciou. Acredito que ele fez isto porque, diante da vida, e da abundância da vida, não há resposta possível, a não ser viver e aprender com a vida. Jamais seremos a Verdade e nem mesmo verdadeiros, porque “somos pó e ao pó retornaremos”.

Acho que deveríamos professar que “toda forma de amar vale a pena” e que seremos tão mais grande em nossa insuficiência quanto nossas almas não forem pequenas.

Enfim, o universo não é um aquário, nós é que, com nossas redomas, pequenas e estúpidas, julgamos a vida, quando a vida não deve ser julgada, mas vivida em abundância.

Somos, infelizmente, frutos de nossa doença, de nosso egocentrismo e de um mundo que cisma em centrar o que é poeira ao vento.

“The answer is blowing in the wind, my brother”, e ela não é de ninguém e não pertence a ninguém, mas é uma manifestação da vida em nós se inventado.

Abaixo toda verdade! Vivamos de afeto e de amor verdadeiro e livre para tudo que nos afeta.

Nenhum ser transcendental nos consagrou a um estandarte de verdade e de justiça irrepreensíveis. A vida não exige que sejamos perfeitos para continuar vivendo. Perfeição é amar livre e sem preconceitos.

Saiamos dos nossos aquários. Mergulhemos enfim na beleza de sermos imperfeitos e diferentes e, apesar de tudo, estarmos todos apenas a caminho.

A verdade só poderá nos libertar se, enfim, ela não for a nossa verdade ou aquela defendida em nome de qualquer coisa e de qualquer pessoa.
Não há verdade, há vida, e toda vida merece ser vivida em abundância!

Qualquer coisa que saia da dimensão da incerteza, seja com que nome a travestirmos, será um impulso homicida, será uma onda de violência e violação.

A violência é a nosso egocentrismo e arrogância tentando ser maior que a vida. Não é pulsão herdada, é doença e deturpação da vida livre.