Educomunicação: Como estamos fazendo EAD?

10 votos
Planejar EAD parece muito simples.

(Parece)

Se o professor ou o projetista de um curso EAD possui conhecimentos básicos de informática, domina o PowerPoint, gosta de escrever nas redes sociais ou se atreve a fazer uma edição simples de vídeo, bem, ele já está apto a criar todo o material do curso para um ambiente virtual de aprendizagem? Não sei vocês, mas acho muito pouco. E acredito que a maioria de vocês esteja sempre se deparando com isso aqui e acolá.
 
É sabido que estamos em uma sociedade que mudou muito. Temos acesso à internet, às tecnologias móveis, computadores baratos, às ferramentas web 2.0. É possível criar um blog como este, criar um canal no youtube, podcasts, relacionamento com outros usuários. Nós nos tornamos emissores de significados, de opiniões, de conexões. A Educação à Distância ganhou uma outra dimensão, temos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, possibilidades de criação de narrativas diversas. E por que ainda vemos a mesma postura centralizadora das salas de aula presenciais? E por que se explora tão pouco as possibilidades das ferramentas web?
 
Vejam a diferença: Enquanto eu, como usuário, tenho inúmeras possibilidades de participação e interação em vários sites e redes sociais que acesso, nas salas de aula virtuais sou limitado à interação com o conteúdo de maneira passiva. Por quê? A cada estudo que se faz da EAD atualmente, “os números que mais gritam” são os de evasão. Podemos pensar em várias respostas, como falta de tempo do aluno, dificuldades de gerenciamento de informação/ensino, incapacidade do aluno em relação ao conteúdo proposto.
 
É preciso se colocar diante da realidade no virtual de maneira diferente.

(Devemos combater a educação bancária virtual!!!!)

E podemos ver uma mudança profunda quando inter-relacionamos a educação e a comunicação.
 
Entendam, um Ambiente Virtual de Aprendizagem é um ecossistema comunicacional. E os atores da educação precisam explorar isso, fugindo do modelo matemático de comunicação (emissor ⇒ receptor) e potencializando a rede e sua cultura interativa (⇔), colaborativa e distribuída. Aqui o conceito de Educomunicação pode nos ajudar a entender os desafios da EAD para uma prática da educação alinhada ao contexto interativo e dialógico do acesso do usuário/aluno na internet.
 
O conceito foi desenvolvido pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE), da Universidade de São Paulo, sob a coordenação do prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, com o objetivo de estudar as inter-relações entre a Educação e a Comunicação e contribuir para identificar novas metodologias de ensino e aprendizagem. Se antes se discutia o uso de técnicas de rádio e jornal para dentro da sala de aula, na Educação a Distância fica clara a necessidade de se estudar com mais potência esta abordagem, desde a maneira como é montada toda a estrutura dentro de um Ambiente Virtual de Aprendizagem, quanto ao uso de narrativas midiáticas para construção de conteúdos.
 
Mas a comunicação não deve ser apenas um instrumento. Como escrevi no começo, não adianta saber criar um powerpoint, ou inserir texto no Moodle. É preciso refletir os processos comunicacionais do usuário inserido na web, as diversas narrativas e representações, os agentes que se colocam em relação com a aprendizagem. O aluno não se interessa por um mero transmissor de conteúdo/mensagem. Ele quer participar, seja pelas vias oficiais, ou pelos grupos/comunidades alternativas no Facebook. E o ambiente virtual de aprendizagem e o conteúdo educacional precisam apoiar e motivar esta participação.
 
Ao construir um ambiente como esse, é preciso estimular a comunicação para todos os usuários, facilitar o processo de construção do conhecimento, usar todo o potencial das tecnologias de informação e comunicação, criar espaços de interlocução. Um gestor de comunicação, ou educomunicador, é peça fundamental na construção deste processo de aprendizagem (se houver liberdade para uma construção em equipe, de preferência multidisciplinar).
 
O educomunicador é um facilitador, planeja a comunicação, media, explora os meios. Ele também é sujeito, possui um lugar de fala e dá visibilidade aos atores, aos discursos, às tensões. Se por um lado explora o uso das tecnologias e narrativas midiáticas, por outro promove a intencionalidade educativa no processo de comunicação. Até porque um curso se estrutura em objetivos educativos. Se este ator é o tutor, facilitador ou design instrucional, é uma questão de postura. Do educomunicador, de quem projeta o curso.
 
Por essas penso que um curso de EAD precisa ter um modelo pedagógico e comunicacional.
 
Referência:
 
DE MELLO, Luci Ferraz. Educomunicação na Educação a Distância: o Diálogo a partir das Mediações do Tutor. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em “Ciência da Comunicação”, ECA/USP. São Paulo, 2010