Programa Amigos do Zippy melhora até mesmo o desempenho das crianças em sala de aula em Brusque SC

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Reproduzo aqui uma reportagem que li do Jornal de Santa Catarina que considero importante no debate sobre  a saúde mental de nossa crianças e jovens.

Uma experiência realizada na Inglaterra tem sido aplicada nas escolas em Brusque SC desde 2010 e qua penso ser uma excelente iniciativa desmedicalizante e de autocuidado e empoderamento. Ao invés de medicalizar crianças produzir espeços de conversa e expressão de sentimentos é muito importante para a saúde mental de todos.

 

Implantado em Brusque, projeto melhora desempenho dos alunos em sala de aula

Programa Amigos do Zippy melhora até mesmo o desempenho das crianças em sala de aula.

Inteligência emocional 03/06/2016 | 06h03

Augusto Ittner [email protected]

Alunos se Alunos se encontram semanalmente, onde falam sobre sentimentos e conflitos.

Foto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS

O divã são as carteiras na sala de aula e, em vez de adultos, os pacientes são crianças. Um projeto implantado na rede municipal de ensino de Brusque ensina os pequenos a lidar com suas dificuldades para que consigam enfrentar problemas mais facilmente na adolescência e também na fase adulta. É uma espécie de terapia de grupo dentro das escolas que vem trazendo resultados positivos tanto no comportamento quanto no desempenho dos alunos.
O programa chama-se Amigos do Zippy e todo o trabalho feito em classe gira em torno da história de um menino, Thiago, que tem um bicho-pau como animal de estimação. O personagem passa pelos mesmos problemas no dia a dia que as crianças na vida real passam, como brigas com amigos e conflitos em família, o que gera discussões sobre formas de encontrar soluções. O projeto é dividido em seis módulos, cada um com uma história, e os encontros acontecem semanalmente. A aula é dada pela própria professora, que passa a ter um envolvimento direto com a iniciativa.

A efetividade da iniciativa é comprovada com dados da Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec). No início de 2015, dos 1.629 alunos envolvidos no programa em 24 escolas, apenas 15% demonstravam real interesse em aprender disciplinas tradicionais, como português e matemática. No final do ano esse número chegou a 70%, ou seja, 1.140 crianças tinham motivação para estudar, segundo avaliação dos professores e pais. Na Escola João Hassmann o projeto já existe há seis anos e os impactos são perceptíveis, segundo a diretora Sandra Regina Aguiar
— Nós explicamos para os alunos que é normal ter sentimentos como raiva, tristeza e alegria, e mostramos como lidar com eles sem trazer impactos pra outras pessoas, fazendo com que a própria criança se sinta melhor. A maneira com que eles falam, se expressam, cobram, tudo é diferente com quem já passou pelo projeto — conta Sandra.

Apoio psicológico tão fundamental quanto a didática
Mas, afinal de contas, como a simples história de um animal chamado Zippy auxilia no desenvolvimento dos alunos na escola e no comportamento dentro e fora da sala de aula? A neuropsicopedagoga Valdeneza Aparício Fernandes explica que a ideia é fazer com que a criança entenda o que está sentindo e o porquê de estar sentindo, para que ela mesma resolva os seus conflitos.
— A criança percebe o sentimento e consegue encontrar alternativas de como agir de acordo com o momento. Essas alternativas fazem com que os alunos tenham atitudes mais corretas, que não vão ferir eles próprios nem outras pessoas — explica Valdeneza.
A especialista ainda explica que, em determinados casos, esse apoio psicológico aos alunos acaba sendo mais importante que a didática.
— Há situações em que a criança precisa de atenção e, se o problema não for resolvido ou amenizado, ela não vai ter qualquer rendimento em sala de aula — defende a especialista.

Novas amizades e mais conversa em família
Como em Brusque o projeto já existe desde 2010, já é possível perceber mudanças comportamentais em crianças e adolescentes que passaram pelo Zippy. Aumento de responsabilidade, respeito e diálogo estão entre as melhorias confirmadas pelos próprios pais, segundo avaliação feita pela Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec). Rayca Huber, de 10 anos, conta que a comunicação com a família melhorou.
— Antes eu não ajudava meus pais e não fazia minhas tarefas em casa. Agora eu converso mais e tenho mais respeito.
O pai, Rogério Huber, disse ainda que o relacionamento entre Rayca e a irmã, Rayane, melhorou após a participação de ambas no Zippy.
— As duas mudaram bastante, ficaram mais educadas e começaram a se dar melhordepois do projeto — afirma.
Heloísa Mazzucco, de nove anos, consegue passar até para a irmã mais nova aquilo queaprendeu com o programa.
— Eu consegui aprender a ser mais calma. Quando ela faz alguma coisa errada, em vez de brigar, eu mostro que aquilo não é legal e ela entende.

Pano de fundo é a valorização da vida
O programa Amigos do Zippy – criado em Londres, na Inglaterra, em 2002 – teve como ideia inicial a prevenção ao suicídio. Avaliações na época mostraram que as pessoas envolvidas passavam a ter mais capacidade de elaborar estratégias para lidar com comportamentos agressivos. Embora hoje o foco seja diferente, o objetivo de oferecer apoio emocional às crianças que precisem segue fazendo parte do projeto nos 30 países envolvidos. No Brasil, 250 mil alunos já participaram.
Em Brusque, a motivação para a implementação do Zippy foi a tragédia de 2008, que destruiu centenas de residências e deixou uma pessoa morta na cidade. Por conta de abalos e perdas materiais, algumas crianças tinham dificuldade em lidar com o estudo, o que levou uma empresa privada a financiar o projeto que se estende até os dias de hoje.

 

Veja a reportagem original em Jornal de Santa Catarina