Ajuste, justiça e acontecimento.

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O ajuste do acontecimento (e suas derivações) num sistema, caracterizado como um conjunto articulado, que generalizamos como fenômeno é o que se observa na extensão do tempo. A consciência, como saber que se enreda em saber que sabe, precisa dessa continuidade que exige uma certa noção de justiça como liame. A ecos do conceito da duração em Bérgson nessa homogenia continuidade que faz a metamorfose do acontecimento em fenômeno.

Mas, essa ideia do ajustamento entre causa e consequência já é uma manifestação consciente que enquadra o singular como aspecto necessário, constituinte e compreendido (absorvido) na síntese do geral. Mesmo que de fato o geral não seja encontrado no real, a não ser como uma solidariedade que conecta fraternalmente a sequência de instantes, como observa Bachelard.

Assim, concordo que a questão da justiça só se formula enquanto problema, indefinição e abertura. Ela não é, nem está na objetividade dos enlaces entre os acontecimentos. No acontecimento nada é injusto. Tudo decorre do movimento coerente, porém incognoscível, dos eventos que se estendem pela quarta dimensão.

Há aqui uma insuficiência perceptiva. Talvez o aspecto generativo do que consideramos o problema da justiça. A consciência, no interior de si mesma, acorrentada ao tempo, percebe a totalidade da qual é interior e vísceras. Projeta como justiça a incerteza que a define. Justiça é a busca pelo desenlace do movimento em um evento de afirmação do devir. Mais precisamente, um dispositivo, um meio, uma ferramenta para criar. É assim que a sentença jamais pode ser definição, mas sempre passagem, abertura para o retorno da incerteza e indefinição – para o novo.

Nada, portanto, de uma teleologia que busca projetar o futuro a partir de uma justificação do passado.

A ideia de que posso sustentar que o que fiz, o que já não é, nem está, como fundamento do que é, e ainda será – ou seja, o que fiz porque era o justo a fazer – mas também inevitável – contrapõe igualdade, equidade e liberdade. Em outras palavras, intermitência, singularidade e indeterminação permanecem um problema a cada vez que buscamos invocar a justiça.