O Valor da Vida Humana e os Bombeiros do Rio de Janeiro

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Começo esse post com uma pergunta singela: quanto vale a vida humana? Uma resposta com base na ética nos remeteria a Nelsom Rodrigues quando nos avisava que uma pessoa é mais importante que a Via Lactea. Ou então a velha assertiva de que essa questão não pode ser reduzida a uma especulação esconômica: "a vida humana não tem preço".
 

 

 

 De fato, gostaríamos que assim fosse. Entretanto, a realidade nos avisa que não é bem assim. Os exemplos podem ter a sutilieza de uma patada de elefante. Quando ansiosos compramos um plano de saúde mal temos a percepção de que nosso corpo e o conjunto de possibilidades de agravos e riscos possam ser literalmente "tabelados".
 
Talvez algum leitor já deve ter passado pela horrível tensão de negociar um exame fora do "permitido" ou descobrir que a data de seu aniversário é presenteada com a mudança para cima de valores da mensalidade do seguro. Óbvio, com o passar dos anos nossos corpos implementam gastos, ficam velhos, exigem "reposições" de novas "peças".
 
Caso um plano de saúde só permita que você passe 15 dias numa UTI, no décimo sexto sua família em desespero irá em busca de um advogado que por uns trocados dirá ao sistema que sua vida não tem preço. Lógico, isso deve ser feito de forma rápida pois o bem incalculável pode ser exterminado a qualquer momento.
 
 Ora, se o corpo humano então tem um preço para quem negocia com ele, deve ter seus impactos na gestão dos serviços tidos como públicos. Os corpos "enlatados" em sistema de transporte exaurido possuem preço. Crianças derretendo em suor em escolas feitas para tostarem ao sol tem seu preço. Velhos morrendo em asilos tem seu preço. 
 
Assim, pergunto ao Governador do Rio de Janeiro, quanto vale a vida de milhares de pessoas salvas de afogamento nas praias cariocas? Quanto vale a vida de centenas em desespero que são retirados das ferragens de automóveis em escabrosos acidentes de trânsito? Quanto vale a vida dos que são resgatados das enchentes nos espaços públicos mal planejados e mantidos? Quanto vale a vida dos que são soterrados pelas encostas dos morros nas intermináveis  chuvas de março?  
 
Para responder a estas questões os políticos invocam a ética. A vida humana não pode ser reduzida a um valor econômico. Caso tivessem que pagar salários condizentes com algo que se aproximasse desse valor, os bombeiros junto com os profissionais de saúde levariam a gestão pública a bancarrota. Na hora de se discutir salários quem recebe "royalties" pela exploração de petróleo torna-se um mendigo andrajoso afinal, não há recursos para todos.
 
O problema é que diante da precariedade de recursos, o Estado destina dinheiro de uma forma desigual e ao faze-lo sinaliza politicamente o valor da vida humana. Reparem, quem lida com dinheiro e arrecadação nos serviços públicos sempre terão melhores salários. Não se trata aqui de criticar estes trabalhadores muito menos propor a "solução" de diminuir seus salários para pagar melhor os outros. Trata-se apenas de constatatar que para o Governo do Rio de Janeiro a vida humana deve valer muito pouco frente a emergente necessidade de se arrecadar melhor e mais recursos
 
O Rio de Janeiro paga pessimamente um grupo de militares especiais. Digo especiais porque eles não foram treinados para a violência, para ferirem e matarem. Eles foram preparados para salvar nossos filhos nas praias, para fazer massagem cardíaca em nossos avós, para resgatar nossas esposas e maridos a beira da morte nas ruas. 
 
Não se trata de pagar o que merecem. Isso colocaria o Estado em bancarrota, não teríamos mais escolas, hospitais, iluminação pública. Trata-se apenas de pagar valores que afirmem ao profissional que a sociedade precisa e tem orgulho do seu trabalho. Para se viver não basta medalha, cumprimentos e orgulho. Eu, você e os bombeiros precisamos também de pão, vinho e alegria!