Este é um relato de experiência de um grupo de acadêmicos do 5º ano de medicina da Universidade Federal de Alagoas referente às suas vivências no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Rostan Silvestre durante o estágio de Saúde Mental. Esse grupo é composto pelos estudantes: Ananda Falcão, Evelyn Amorim, Ingryd Araújo e João Vitor Matos.
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Rostan Silvestre, classificado como tipo II, está localizado no bairro Jatiúca, em Maceió-AL e é responsável pela assistência aos I, II e VIII Distritos Sanitários do município. Dessa forma, a unidade presta serviços a indivíduos com transtornos mentais de todas as faixas etárias que residem nos mais de 20 bairros compreendidos.
O serviço conta com diversas atividades oferecidas aos usuários, como estratégias de acolhimento, grupos terapêuticos, consulta psiquiátrica, oficinas de artesanato, auriculoterapia, grupos de meditação e atividade física, visita domiciliar, entre outros. Essas práticas são lideradas por profissionais de diferentes especialidades, revelando o caráter multiprofissional da assistência.
Assim, durante o estágio, tivemos a oportunidade de participar dessas atividades e, com isso, perceber a importância das estratégias multiprofissionais e interdisciplinares na terapêutica e socialização dos usuários.
Uma das atividades que os acadêmicos vivenciaram no CAPS envolveu grupos terapêuticos. O grupo terapêutico potencializa as trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria na adaptação ao modo de vida individual e coletivo. Para Cardoso e Seminotti (2006), o grupo é entendido pelos usuários como um lugar onde ocorre o debate sobre a necessidade de ajuda de todos. Ao tomarem parte desses grupos, os participantes relatam melhora nas relações sociais, nos níveis de conhecimento sobre questões discutidas no grupo, na capacidade para lidar com situações inerentes ao transtorno sofrido, na confiança, além de alívio emocional.
Durante o período do estágio, foram realizadas algumas dinâmicas nos grupos terapêuticos. A primeira envolve uma atividade que recebeu o nome de “Árvore dos Objetivos”, explorando quais objetivos cada um possuía e o que precisava fazer para alcançá-los. Para isso, os usuários escreveram e/ou desenharam em pedaços de papel, colaram na parede e falaram sobre o significado desses objetivos na vida de cada um deles.
Outra dinâmica vivenciada propôs uma atividade chamada “Banco das Virtudes”. Primeiramente, os integrantes do grupo escreveram no papel algo que eles almejam fazer na vida. Depois, escreveram qualidades suas que têm ou que buscam ter para alcançar esse objetivo. Foram atribuídos valores em dinheiro fictício para cada uma dessas qualidades e eles negociaram valores para trocá-las uns com os outros, com base no desejo que eles escolheram. A proposta dessa dinâmica envolveu a percepção dos integrantes acerca de como eles buscam alcançar suas metas de vida.
Durante o grupo terapêutico, também surgiu uma oportunidade de realizar uma ação de educação em saúde dentro do contexto do mês “Novembro Azul”, para abordar a saúde do homem. Na imagem abaixo, podemos observar um dos acadêmicos discutindo com os usuários do CAPS sobre esse assunto.
Dentro dos grupos terapêuticos, outra dinâmica realizada trabalhou autoestima e resiliência, através de um questionário entregue a cada usuário com perguntas acerca de adjetivos positivos sobre eles, um relato da pior situação de vida de cada um e os caminhos tomados para resolvê-la. Após, as respostas foram socializadas e eles puderam perceber o quão capazes de enfrentar adversidades são e como suas características os ajudam nesse processo. Além disso, compartilhar promoveu a identificação entre eles, o que permitiu ampliar a percepção e ressignificar os processos.
Acompanhar a prática de Auriculoterapia com o dr. Gabriel também foi muito interessante, pois nos permitiu expandir a ótica de tratamento do paciente para além da medicina tradicional, adquirindo técnicas da prática médica chinesa e presenciando de perto a evolução e melhora terapêutica do paciente. Durante a atividade, o dr. Gabriel não apenas explicava o passo-a-passo da técnica, como também o sentido por trás de cada etapa realizada, o que tornou o processo bastante interessante e enriquecedor.
Também foi possível acompanhar o atendimento psiquiátrico individualizado, realizado três vezes por semana no serviço, para acompanhamento dos pacientes.
Através das diversas atividades, foi possível compreender a importância dos CAPS no cuidado dos usuários, o que contribuiu para a redução do estigma associado aos transtornos mentais. A perspectiva do sofrimento psíquico foi apresentada pelo próprio paciente, o centro do processo, dentro de um ambiente de respeito e livre de preconceitos.
A relação estreita da equipe multiprofissional possibilita a criação de vínculo com os pacientes e, por consequência, auxilia na identificação ágil de suas demandas, elevando a qualidade da assistência por meio, majoritariamente, de tecnologias leves e leve-duras, acessíveis a todos os profissionais.
Por Sérgio Aragaki
O estágio nos CAPS, apesar de todas as dificuldades que os mesmos enfrentam e que se refletem na formação, tem provocado importantes melhorias no olhar e no cuidado às pessoas.
Compreender o sujeito para além de sua doença e fazer cuidado ampliado, para além de tratar doenças e sintomas, é estar coerente com o proposto pelo conceito de saúde, com a Reforma Psiquiátrica, com a Luta Antimanicomial, com o SUS.
Em defesa do cuidado em Liberdade!