Apoiadores mapeiam mortalidade infantil e materna em população indígena

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Iniciativa é parte do Projeto de Apoio Integrado aos Distritos Sanitários Especiais Indígenas

 

De 22 a 24 de maio,  trabalhadores da saúde participaram da segunda Oficina de Formação de Apoiadores do Projeto de Apoio Integrado aos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Uma iniciativa do Ministério da Saúde,  por meio da Secretaria de Atenção à Saúde Indígena (SESAI) e Política Nacional de Humanização (PNH), o Projeto  tem como foco utilizar o apoio institucional para a diminuição da mortalidade infantil e materna nos DSEI

Primeira turma de apoiadores de saúde indígena, referências da SESAI e apoiadores PNH

Durante os três dias, 15 apoiadores da SESAI e 9 apoiadores da PNH discutiram seu trabalho em articulação com  as redes de atenção, as informações sobre notificação e investigação dos óbitos e os fatores que interferem na mortalidade infantil e materna da população indígena . Após a primeira fase da formação, em março, eles iniciaram a cartografia nos DSEI, tarefa realizada por meio de sua inserção nos territórios buscando informações junto à  coordenação do DSEI, equipes de saúde indígena, conselhos de saúde,  coordenação de atenção à saúde e comitês de óbito municipais e estaduais. Essa cartografia será detalhada e validada com o coordenador do DSEI. Além disso, o grupo debateu o Plano de Ação do Apoio Institucional, estabelecendo metas e produtos esperados em todos os DSEI.

A assistente social e apoiadora do DSEI Pernambuco Alexandra Japiassu trabalha com a saúde indígena desde 2005 e acredita que a estratégia do apoio institucional possibilita a criação de agendas com órgãos estratégicos e amplia a rede de saúde indígena. “Mapeamos as causas da mortalidade infantil em  11 dos 15 municípios que pertencem ao DSEI, desde a última oficina do apoio. Um outro fruto dessa atividade é que agora terá representação de técnico de saúde indígena nas reuniões mensais da Comissão Intergestores Regionais (CIR).”, diz.

Mas o apoiador da saúde indígena não trabalha sozinho, ele é apoiado tanto por suas referências do apoio na SESAI quanto pelos apoiadores da PNH nos estados. “ O apoio do técnico de referência da SESAI nos dá feedback sobre as ações realizadas e alerta sobre como agir nos territórios. A PNH,  por sua vez,  tem acesso a agendas que não temos, principalmente nas redes prioritárias, então nos possibilita participar de novos espaços estratégicos. A saúde indígena tem que ser percebida de uma nova forma, a metodologia dessas oficinas de apoio são positivas e construtivas, dando espaço para aparecer as experiências, visões de cada um, com mais qualidade e efetividade”, afirma Japiassu. Para a enfermeira Raquel Vogues Caldarte,  há dez anos no SUS, o trabalho é importante pois tem como desdobramento a reorganização dos serviços. “ A saúde indígena sempre foi colocada como algo a parte e com este projeto, podemos reinseri-la nas discussões do SUS”, disse a apoiadora do DSEI Ianomâmi. Concorda com ela o apoiador de referência da PNH para a Saúde Indígena, Paulo Morais. “ O apoio institucional pauta a saúde indígena para além da SESAI, como parte do SUS”, disse.

O coordenador da PNH Gustavo Nunes de Oliveira avalia que o grupo evoluiu muito desde a primeira oficina. “Os produtos e resultados foram muito bem delineados , o que confirma nossa aposta metodológica e o foco de trabalho, que está na organização e qualificação  da informação sobre óbitos, mapeamento da rede de saúde indígena e articulação com as demais redes”, disse.

O técnico da SESAI que participa da coordenação geral do projeto de apoio aos DSEIs André Martins também avalia que esta segunda etapa foi de avanços. Para a próxima etapa, prevista para julho, eles vão detalhar essa cartografia apresentada e validá-la com o coordenador do DSEI, assim como apresentar o plano de ação.  “Os DSEIs começaram a se inserir nas discussões das redes de saúde, estamos trabalhando para melhorar a notificação e investigação dos óbitos, capacitando as equipes para preenchimento e coleta da informação, seguido do  plano de ação para redução  a mortalidade”, disse.

Apoio à saúde indígena  em constante ampliação

 

Segunda turma de apoiadores da saúde indígena 

E o apoio institucional não acontece só em 15, mas atinge atualmente 27 dos 34 DSEIs. Uma vez que a seleção dos apoiadores se realiza em várias etapas, o grupo dos 15 apoiadores reunido semana passada em Brasília começou o Projeto em março, enquanto que, no início de maio, foi apresentado a 11 novos apoiadores. Assim como o primeiro grupo, eles também discutiram a implantação do decreto 7508, das redes prioritárias, e foram munidos de informações para que tenham condição de discutir o acesso da população indígena ao SUS e elaborar a cartografia. 

A apoiadora Helena Caldas, do DSEI Guamá-Tocantins é enfermeira especialista em saúde indígena e acredita que a proposta de apoio institucional é inovadora. “ A área indígena precisa de interlocutores entre as equipes multidisciplinares de saúde indígena e as instâncias gestoras do SUS. “ A socióloga Paula Azevedo, apoiadora do DSEI Manaus, gostou da formação dada a quantidade de informações nova. “ Não sabia nada sobre função do apoiador, a partir de agora, tenho estrutura para desenvolver as atividades. “, disse.

O papel da PNH na Formação está no exercício do apoio e no método da inclusão; e a parceria com a SESAI é  avaliada positivamente, pois a PNH também aprende sobre as especificidades da saúde indígena . “O trabalho do apoio é novo na saúde indígena e a PNH é importante para nos instrumentalizar nessa metodologia. A PNH dá a ferramenta do apoio, os arranjos, a supervisão e no território, os apoiadores da PNH nos ajudam a inserir o apoiador SESAI nas discussões das redes e desenvolvimento das ações” disse Martins.

Rede HumanizaSUS como ferramenta de trabalho
A Rede HumanizaSUS é utilizada pelo grupo como repositório de informações e documentos e também para troca de experiências e tem sido avaliada  positivamente, pois permite socializar os trabalhos feitos no território e atuar com transparência postando as cartografias e planos de trabalho.  A apoiadora Alexandra Japiassu avalia que a  RHS como um espaço de produção coletiva, troca de experiências, e se diz pouco ativa pois nem sempre consegue acesso à internet nos trabalhos de campo. “ É um espaço rico e legítimo, válido para esse contexto. Conseguimos trazer nossas ansiedades, compartilhar com os demais apoiadores, e ter rápido feedback do que se produziu” disse. A administradora Gelcides Soares Modesto é apoiadora do DSEI Altamira e acredita que a RHS é uma boa estratégia, pois o material disponibilizado permite a formação à distância, e nos fóruns se permitem dialogar sobre o mesmo tema. “ Podemos não só expor o que consideramos importante no nosso território, mas comentar o que acontece nos outros DSEI e partilhar as dificuldades, buscar solução conjunta dos problemas”, disse.

Para ler o Projeto de Apoio Integrado aos Distritos Sanitários Especiais Indígenas clique aqui ou no documento abaixo.