Repúdio ao Fim da PNH enquanto política de governo
No dia 30/07/2015 em evento promovido pelo Cefor/SP sobre Acolhimento com Classificação de Risco e Vulnerabilidades na Atenção Básica, Cleusa Pavan, Apoiadora Institucional desse coletivo de humanização envolvido com a implementação de diretrizes e dispositivos da PNH no Estado de São Paulo, anunciou o encerramento de suas atividades de apoio por conta da extinção da PNH enquanto política de governo.
Diante disso a reação do coletivo foi de indignação com posicionamento unânime à aprovação de uma moção a ser enviada ao Ministério da Saúde (em anexo).
9 Comentários
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Por Carlos Rivorêdo
Não há como decidir desencadear um movimento sem análise. Não basta a opinião de um ator. Sugiro que verifiquem o teor da mudança antes de concluir.
Saudações
Carlão
Por ruiharayama
Estranho isso, estamos ocupando a conferência com a pauta da Humanização e do PNH, não sabia que estava sofrendo esse processo de 'readequação'.
Rui:
A pauta da humanização, as diretrizes e dispositivos da PNH eles chegaram para ficar no SUS. O movimento HumanizaSUS está vivo e assim seguirá até que a chama se apague…
Estamos nos inserindo na estratégia do Apoio Descentralizado que o MS adotou no seu planejamento, levando conosco nossa caixa de ferramentas da PNH.
Continuamos na luta por um SUS de qualidade para todos!
Abraços
Stella Maris
O movimento HumanizaSUS está espraiado por muitos lugares e modos de fazer saúde pautados nas preciosas idéias e práticas criadas pela PNH.
Ocupar a conferência com a pauta da humanização é exemplo vivo deste espraiamento em todas as instâncias onde se disputa sentido sobre os modos de fazer uma outra saúde possível e desejável em nosso país.
Vamo que vamo nesta toada humanizadora!
Por catia martins
Olá pessoal da RHS,
Maria, importante e corajoso seu post! Ufa, vcs e os colegas de SP colocaram declarada/e na roda.
Como Raphael apontou, é um assunto que já estava aqui na RHS. Falavam disso no post sobre a Mostra em Santa Catarina e a saída de Carlos.
Parece-me que este é um momento silencioso demais e as dúvidas são muitas. Falta-me, talvez falte para muitos/alguns de nós, um bocado de notícias e informações para uma análise melhor das atuais mudanças no Ministério da Saúde.
Mas como nos lembra Stella, a pauta da humanização veio para ficar! As mudanças institucionais não alteram a nossa aposta de construir um Sistema de Saúde que cuide melhor das pessoas.
Os arranjos têm data de validade, mas nosso sonho de avançar no direito à saúde como dimensão de cidadania não. Gosto de pensar que o fim de um mundo não é o fim do mundo…
Tô acompanhando esta conversa. Tomara que mais gente entre aqui.
um abraço, Catia
Por Carlos Rivorêdo
Pessoas humanas,
ocupar o Aparelho de Estado é importante, sem dúvida. Contudo, o que faz uma política setorial como a nossa não é apenas isto. Os aparelhos de Estado tem o compromisso social de governar, e governo não faz revolução. O que pode (ou não) revolucionar práticas sociais, ou seja, transformá-las radicalmente em um sentido desejado por aqueles que as pretendem revolucionar, é a Sociedade. Uma Política de Governo expressa sobretudo as visões de mundo daqueles que assumem esse poder. A PNH persiste como política de governo. Dentro dele pode ser instrumento de mudança de práticas. Todavia, o fará submetida às limitações desse poder de Estado. Neste sentido poderá eivar de questões o aparelho de Estado, a partir do seu Governo. Mas, pára por aí. No máximo, conseguirá reformar algo. Não terá potência para mudar a governança, nem a governamentalidade daqueles que estão no efêmero poder de governo.
O que faz ou poderá fazer uma revolução? O que terá potência para transformar, com a radicalidade que a vida material exige? Penso que seriam os Movimentos Sociais, juntos e separados, pensando juntos e separado um projeto de sociedade. No nosso caso, um projeto que afirme a vida e o humano como seu mandatário. O setor de saúde tem o privilégio de ter na textura social inúmeros movimentos que, ainda e infelizmente, ainda estão desarticulados.
Sou do tempo em que havia um mínimo de articulação desses movimentos. E foram capazes de gestar o SUS – esta política social tão generosa – e fazê-lo penetrar o aparelho do Estado.
O movimento HumanizaSUS tem potência para acionar essa articulação. Com paciência e perseverança, é claro. Nele, existem possibilidades de se criar condições de possibilidades para contribuir para um futuro revolucionário. Nele, as práticas em saúde emergem a todo momento, em lugares e tempos diversos, mas com uma intenção única, própria, construída dentro e fora do Governo. Nele, veem à superfície o poder que circula, os lugares de servidão. Mas, também nele se percebem as estratégias e as táticas de resistência contra o que está a serviço desse poder opressor.
Portanto, vamos à labuta dentro e fora do Governo, fazendo valer os princípios e as diretrizes da PNH, que nada mais são que os princípios e as diretrizes do SUS.
Recentemente, propus criarmos o Dia Nacional do Orgulho SUS (KKKK). Aí Stella, lhe desafio a pensarmos essa ideia e acionarmos a comunidade HumanizaSUS para um dia com este teor dentro da Semana Nacional de Humanização da Ateção e da Gestão em Saúde.
Beijo frateno,
Carlão
Acho que está havendo um grande equívoco nas respostas ao que foi colocado no post da Maria e àquilo que foi indagado por Raphael, se eu estiver errado, por favor, me corrijam companheiros.
Não se trata em nenhum momento de indagar sobre a potência e a existência da PNH enquanto política pública, pois quem dela milita sabe que, a não ser que morramos, dentro, cada um de nós carregamos esta que acompanhamos como parceiros, ajudamos a formular e nos aproximou enquanto trabalhadores e militantes do SUS. Não há dúvida quanto a isto. A PNH vive e viverá em cada um de nós e por cada um de nós que nestes 13 anos de existência nos apaixonamos por ela e a professamos, não como discípulos e seguidores, mas como colaboradores, articuladores, apoiadores, entendendo de uma vez por todas que clínica e política não se separam, que gestão e atenção andam juntas e só funcionam assim.
Portanto, o que se pergunta é o que foi feito da PNH como política de governo, ou seja, que lugar a máquina de Estado reservou para ela na atual conjuntura.
Com ex-consultor da PNH, também me retirei dela por não vê-la mais aonde cismam em querer coloca-la. Desfiz minhas frentes e evitei de abrir outras porque, na atual conjuntura, o que era prioritário para a PNH, como política de governo, passou a não ser mais prioritário para a política deste governo.
Ao meu ver, a PNH deixou de ser política de governo para ser política de um governo e, ao invés de poder dialogar com a máquina, como sempre fez, apoiando o MS, mas, ao mesmo tempo, apoiando os territórios em suas demandas, ambos como prioridades, deixou de ser possível.
Ao modo de fazer da PNH com seus princípios, diretrizes e dispositivos, foi contraposto um modo de fazer que a atual gestão entende como o que deve ser seguido. Não há, pois, como discutir prioridades e importância das demandas, há uma diretriz que deve ser seguida e todas as demandas devem a ela se adequar, ou não serão consideradas demandas válidas.
Isto, em si, não é ruim nem bom, não sejamos maquiavélicos, mas é uma substancial mudança na existência daquela que se queria diversa e diversificada desde a origem, assumindo o estranho paradoxo de estar na máquina de governo, mas, ao mesmo tempo, dobrando a máquina para fora, de forma que a política pública que vinha dos territórios pudesse ter voz e protagonismo nas formas de construir um novo modelo de gestão e atenção que viesse ao encontro daquilo que chamamos o SUS que dá certo.
A moção de repúdio de São Paulo é perfeitamente compreensível, porque realmente a PNH que entendíamos acabou e a pergunta, como a entendi, é muito mais sobre o que faremos com nossos movimentos que se estruturaram no modo de fazer da PNH, esperando seu apoio. Enfim, acho que o pedido que vem de São Paulo e Santa Catarina é muito mais no sentido do que se pode demandar daqui para a frente e do porque que movimentos considerados potentes no território tiveram que encerrar.
Enfim, acho que o que se coloca é muito mais uma questão de que apostávamos numa PNH que não mais existe sem que, no mínimo, consigamos entender afinal o que realmente se passou e que nova PNH é esta que, apesar do mesmo nome, não é mais aquela que conhecíamos e demandávamos.
Falam de silêncio, de estranhamento e de desorientação como se, desfiliados do que existia, procurassem compreender se o que existe é aquilo em que ainda acreditam. Esta a moção de repúdio, pelo fim de algo em que se confiou e militou e que, apesar dos pesares, fez enorme diferença nos territórios.
Como alguém que decidiu pela saída da consultoria, não me sinto nada a vontade para aqui tentar esclarecer, pois certamente isto estaria completamente implicado com meu próprio modo de análise da questão.
Portanto, ao velho modo da PNH, que não é o atual, acho que caberia uma boa roda de conversa com os territórios a fim de, com eles, construir esta nova nomeada PNH que, de Política de Governo, passou a ser Política estratégica deste governo a ponto de ter levado seu Coletivo Nacional a se desfazer, com alguns saindo e outros ficando, porém com novos papéis e mandatos.
Assim, a PNH morreu e não morreu como política de governo. Como disse a Cátia, arranjos se desfazem e isto não é ruim nem bom, mas é diferente. Se o nome continua o mesmo, o que é bastante sujeito à confusão, é preciso ao menos entender bem o que este novo, porém antigo nome, quer dizer e o que se pode dele esperar, até mesmo para decidir pelo engajamento ou não no novo projeto.
É esta nova funcionalidade, este novo modo de fazer que causa estranhamento e mesmo repúdio, já que não se sabe muito bem do que se trata. É a isto, a meu ver, que se questiona, diferente das respostas que até aqui foram dadas.
Conversar nunca é demais, é o único modo aliás de se fazer verdadeira cogestão.
Continuemos a conversa pois, para poder nos entendermos e nos posicionarmos sem atropelos.
Abs.
Miguel Maia
A roda foi aberta aqui também, um território tão potente quanto a terra propriamente dita. Por vezes até mais potente, por incluir virtualmente todos os atores, sociedade e governo, num diálogo direto.
bjs
Por Raphael Henrique Travia
Com palavras mais suaves e otimistas, o consultor da PNH-SC também anunciou o encerramento de suas atividades na IV Mostra da PNH em Santa Catarina que ocorreu na metade do mês passado.
https://redehumanizasus.net/91416-no-final-a-gente-lembra-do-comeco-iv-mostra-da-pnh-em-santa-catarina-1-dia
De toda forma achei legal a iniciativa de vocês em fazer a moção para encaminhamento ao Ministério da Saúde. Talvez fosse legal encaminhar moções nesse mesmo sentido nas conferências Estaduais e Nacional de Saúde.
Outra coisa que também eu acharia importante e #ficaadica seria uma postagem institucional da PNH explicando o que está acontecendo.
Abraços
Raphael