Projeto Identidade Alagoana promovendo SAÚDE.
O Projeto Identidade Alagoana foi uma das ferramentas utilizadas por uma equipe de profissionais residentes em Saúde da Família para promover saúde por meio da valorização cultural e empoderamento de usuárias pertencentes ao grupo Bem Estar (grupo de mulheres de uma comunidade do município de Maceió-AL, implantado pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL) tendo como enfoque a identidade do estado de Alagoas.
O projeto possibilitou aos profissionais a ampliação e o fortalecimento da concepção de saúde como produção social e cultural, superando o entendimento de saúde apenas como ausência de doença. Seu desenvolvimento ocorreu de forma articulada entre uma equipe de residência e as usuárias pertencentes ao grupo, de modo que todos os processos desde o planejamento, confecção de recursos e desenvolvimento das atividades foram construídos de forma compartilhada. O projeto foi constituído por quatro eixos temáticos: histórico-literário, folclórico, artesanal e o culinário. A proposta do projeto foi apresentada ao grupo em um dos dias de atividades rotineiras, quando os eixos temáticos foram apresentados e cada membro do grupo pôde escolher em qual eixo estaria à frente para o planejamento e desenvolvimento das atividades à serem construídas. Após a divisão e formação dos grupos (entre residentes e usuárias) houve reunião de cada um para o planejamento das atividades.
O primeiro eixo temático (histórico-literário) foi trabalhado por meio de roda de conversa com a utilização de imagens e confecção de mural conjunto (simulando a bandeira de Alagoas) com a apresentação da história do estado e das personalidades alagoanas (nomes de alagoanos que fizeram parte da história do Brasil como Théo Brandão, Zumbi dos Palmares, Jorge de Lima, Graciliano Ramos, Nelson da Rabeca, Aurélio Buarque de Holanda, Marechal Deodoro da Fonseca, entre outros).
O segundo eixo temático foi o folclórico, que foi trabalhado por meio de rodas de conversa sobre a composição do folclore alagoano (caracterizado pelo guerreiro, bumba meu boi, coco alagoano, pastoril, reisado, entre outros) e por meio do desenvolvimento de práticas corporais com a utilização das danças folclóricas como recurso. Algumas músicas de pastoril e coco de roda foram sugeridas pelas usuárias do grupo para criarmos coreografias e executarmos durante as práticas. Houve a seleção de uma música de pastoril (“Meu São José”) que fez parte das práticas corporais durante toda a execução do projeto.
O terceiro eixo temático foi o artesanal, que foi trabalhado por meio de atividade com imagens para identificação dos tipos de artesanatos desenvolvidos no estado, roda de conversa e partilha de habilidades ou histórias de familiares ou amigos que desenvolvem artesanato. Cada membro do grupo que desenvolvia algum tipo de artesanato foi convidado a apresentar o seu artesanato ao grupo, a história de como a pessoa adquiriu essa habilidade, se costuma desenvolver o artesanato e se a habilidade vem sendo repassada para as gerações seguintes de familiares e amigos. As mulheres apresentaram suas habilidades ao grupo realizando uma pequena mostra do passo a passo de cada tipo de artesanato conforme cada uma ia apresentando.
O quarto eixo temático foi o culinário, que foi trabalhado por meio de um jogo de quebra-cabeça (no qual cada pessoa recebia uma imagem e deveria juntar-se a outra que pudesse compor a sua) e roda de conversa sobre as imagens montadas pelo grupo. Também houve oficina de culinária com um dos pratos característicos do estado (tapioca) e em seguida, café regional (onde cada membro preparou e levou para o grupo um prato regional).
O projeto foi finalizado com uma visita ao museu Théo Brandão para potencializar os eixos temáticos trabalhados por meio de novas vivências, construção de novos olhares e a própria identificação das mulheres relacionada a nossa cultura e as suas histórias de vida. E também, por meio de visita ao Parque Municipal para o desenvolvimento de atividade de lazer e piquenique, oportunizando o acesso das usuárias a espaços que promovem cultura e lazer. As atividades estão em conformidade com o SUS, que preconiza a criação e o desenvolvimento de metodologias que valorizem a cultura e o desenvolvimento local. Incluindo a Constituição Federal de 1988, que traz o lazer como um direito social.
As ações desenvolvidas trouxeram feedback positivo por meio resultados como: integração da equipe, favorecendo a qualificação no processo de formação das profissionais residentes para atuarem na saúde da família; a interdisciplinaridade entre as categorias profissionais envolvidas (Terapia Ocupacional, Psicologia, Nutrição, Fonoaudiologia e Fisioterapia), visando atender as necessidades da comunidade; a construção de novos saberes; trocas de experiências; valorização do saber popular e aproximação e resgate da identidade do estado de Alagoas.
A Saúde da Família é fundamentada em tecnologias leves e de contato direto com os usuários, permeada pela horizontalidade das ações e pela Educação Popular em saúde. A inserção da cultura nos temas dos grupos permitiu uma aproximação ainda maior com aspectos da vida das usuárias, possibilitando práticas mais condizentes com suas demandas e realidades. Assim, através da execução do projeto foi possível perceber a importância do fomento à cultura como estratégia de promoção de saúde por parte dos profissionais na Saúde da Família.
Essa foi uma dentre diversas ações que são desenvolvidas diariamente pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, (atualmente formada por 4 equipes de residentes que envolvem 8 categorias profissionais: Terapia Ocupacional, Psicologia, Nutrição, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Educação Física, Odontologia e Enfermagem).
Nas imagens estão: mulheres pertencentes ao grupo Bem Estar e as residentes: Lidiane Medeiros, Luisa Macedo, Marília Gabriela, Emanuele Sarmento, Cyntia Toledo, Juliana Ferreira e Claudinete Melo.
Obs. Todas as imagens divulgadas foram devidamente autorizadas.
Por deboraligieri
Olá, Lidiane.
Seja muito bem-vinda à Rede HumanizaSUS! E você chega brilhando com este lindo post sobre o trabalho da equipe de residência que, mais do que ultrapassar a noção limitante da saúde enquanto ausência de doença, mostra a atuação de residentes na construção da saúde valorizando as características culturais e a promoção da dignidade humana das pessoas envolvidas no atendimento em saúde. Fiquei ainda mais encantanda com o fato do projeto possibilitar a participação ativa das usuárias, e com a postura democrática de vocês de inserir músicas de pastoril e coco de roda sugeridas por elas para a criação de coreografias e execução durante as práticas. Lindo demais!
Assim como a sua equipe de residência, há aqui na rede um grupo de estudantes de medicina da USP envolvidos com ações que ultrapassam a noção negativa de saúde, e que compartilha com a comunidade os bons frutos do aprendizado acadêmico. No texto "Candlelight memorial" (evento internacional que ocorre em mais de 100 países desde 1983 com o objetivo de homenagear as vítimas do AIDS, conscientizar a população sobre o assunto e lutar pelo direito das pessoas que vivem com o vírus) é possível ver como se desenvolveram as atividades desse grupo em 2014. Segue link do post: https://redehumanizasus.net/84307-candlelight-memorial
Ano passado estive num curso de saúde e comunicação, da residência multiprofissional da USP, e fiquei feliz como usuária do SUS ao presenciar tamanho entusiasmo das alunas com a possibilidade de ampliar o diálogo democrático com usuários e usuárias do sistema público de saúde (https://redehumanizasus.net/85814-a-saude-publica-nao-esta-nua). Esse seu post me deu a mesma sensação de alegria, ratificando a minha ideia do SUS como sistema de promoção da justiça social. Repito o que disse na ocasião, pois se aplica perfeitamente a você e suas colegas e seus colegas: a saúde pública não está nua, porque tem em sua formação profissionais cheios de qualidades, que reconhecem nas pessoas que atendem seres humanos, profissionais que valorizam a própria humanidade. Obrigada!
Se tiver alguma dificuldade para utilizar as ferramentas da rede, estaremos aqui para auxiliá-la no que precisar.
Abraços,
Débora
Coletivo de editorxs da Rede HumanizaSUS