Qualquer coisa que diga para dar sentido a expressão mais íntima de você mesmo pode ser ouvida como uma indireta, como um ataque.
Quando imersos em nossas dores, tendemos a ilusão de que tudo o que acontece ao redor tem que necessariamente ser referente a nós e aquilo que eventualmente estamos sentindo. Muitas vezes não é mais do que outra pessoa falando de si mesma.
Acreditamos que a comunicação pode ser absolutamente igual a ela mesma, sem carregar nem excesso ou insuficiência. Porém, sempre dizemos mais ou menos do que desejamos e somos interpretados de acordo com cada um que esteja ouvindo.
O fato é que não possuímos as palavras. Somos o que sentimos e ao tomar um vocábulo, ao enunciar nossas frases, elas carregam nossas mensagens, mas também o peso da história das palavras. Todas as palavras, todos os conceitos que as palavras expressam, têm um peso maior do que apenas aquilo que pretendemos expressar.
Quando usamos uma palavra ela diz o que conscientemente queremos dizer, e não raro, também o que inconscientemente nem imaginamos estar dizendo.
A realidade nos mostra que sempre se pode distorcer o que dizemos. Também sempre há alguma distorção ou perda na interpretação que fazemos do que ouvimos.
Ouvir e falar, portanto, não são ações triviais. Ouvir depende da disposição amorosa para se reconhecer no outro para além do sentido unilateral das palavras. Ouvir o que o outro de fato quer dizer é uma arte. É tarefa de toda uma existência.
A única forma de ouvir é praticando o eterno retorno ao encontro com o outro e consigo mesmo. O diálogo precisa de intervalo e recomeços incontáveis. As vezes falar é amar, e ouvir é ser amado, outras vezes é o contrário. Mas sem amor não há comunicação. Sem amor há apenas a troca monótona de monólogos autorreferentes.
Por Cristine Nobre Leite
Marco,
O carinho e o amor sempre no dão um som que pode ecoar com profundidade: uma voz manifestada numa reciprocidade afetiva.
Abraços,
Cristine