A crônica de um apocalipse engendrado

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Os maiores morticínios da história humana coincidem com os momentos em que nossas possibilidades técnicas de afastar a fome, a sede e a escassez de alimentos já eram plenas. Sentimos pavor com as mudanças, qualquer mudança. Mesmo que o mundo não pare de mudar e que nosso desenvolvimento implique em uma espécie de mudança que pode afirmar e fortalecer a vida.

A revolução industrial tornou possível resolver nossos maiores problemas. Supomos que nossa angústia diante da existência decorre da incerteza quanto à sustentabilidade da vida material e do bem comum que decorre dessa sustentabilidade.

De fato, quando a revolução tecnológica aconteceu, o que tivemos foram duas grandes guerras mundiais. A segunda terminou com um espetáculo de destruição que jamais deixou de assombrar nossos piores pesadelos. Nossas lideranças políticas e militares concordaram em dizimar a população de duas cidades de um país que já estava derrotado.

As tecnologias que poderiam tornar a vida material livre do medo da fome, da falta de abrigo e água, mas também agraciada com o transporte rápido e comunicações globais, foram usadas para incrementar nossa capacidade de autodestruição.

O que explica essa inclinação por produzir a dor e a ruína com as ferramentas que poderiam elevar a vida e promover o bem comum?

Nietzsche percebeu isso e notou que em nome de amaldiçoar a vida seríamos capazes de matar Deus. Depois de termos criado Divindades alegóricas que representavam e construíam o crescente ressentimento para com a vida, simplesmente abandonamos todos os deuses por já sermos capazes de nos condenar com nossos próprios engenhos.

A crise geopolítica entre China, EUA e Rússia só prefigura o destino final, em que os seres humanos irão se aniquilar, porque estamos ressentidos por existirmos. A busca pelo bem comum é uma farsa, um mito. Nossa suspeita em relação a vida é maior do que a alegria que sentimos por estar vivos.