Aula de Geografia do dia 10 de novembro de 2022
A matéria do espírito e da alma
A Relação entre a Mente e o Espaço Geográfico
Ilya Prigogine foi um químico russo naturalizado belga. Recebeu o Nobel de Química de 1977, pelos seus estudos em termodinâmica de processos irreversíveis com a formulação da teoria das estruturas dissipativas. Estudou química na Universidade Livre de Bruxelas, Bélgica. Wikipédia
Segue minha leitura de suas ideias na forma de uma síntese da relação entre matéria, vida e consciência.
O desequilíbrio, a instabilidade e a incerteza foram os caminhos que levaram processos contínuos a fazer a mesma substância, um mesmo complexo precariamente ordenado, mudar para um novo e inédito estado. Algo que sendo o que era antes, atinge propriedades que eram impossíveis anteriormente.
É assim que a água, lentamente aquecida, atinge um momento, um instante, em que passa do estado líquido ao gasoso. Uma mesma substância, água, mas então com propriedades completamente diferentes.
O que vemos acontecer com a consciência é semelhante. Todo cérebro é capaz de mapear, criar uma imagem do mundo interno, as necessidades do corpo, como alimento e sexo; e mapear o mundo externo, perceber o espaço ao seu redor.
O cérebro se desenvolve lentamente, espécie após espécie, se adaptando ao meio, aumentando o número de neurônios e suas conexões. De modo instável, desequilibrado, dinâmico, crescente e cumulativo, o cérebro, sendo ainda o que é em todos os animais, atinge no ser humano primitivo, uma nova propriedade. Pode perceber a si mesmo e ao ambiente, mas sobe um nível, atinge uma nova dimensão. Um novo estado mental:
O pensamento pensa o pensamento. A consciência emerge e o ser humano passa a ver a si mesmo vendo o mundo, torna-se outro em si e dentro de si mesmo. Novos processos de desequilíbrio e instabilidade surgem. A linguagem, a tecnologia e os sonhos podem vagar mais longe no tempo e no espaço. Os projetos da espécie consciente podem existir. Podem até se realizar, de modos imprevisíveis, podem frustrar as expectativas e trazem incessantes transformações, mais especificamente o que chamamos de revoluções.
O preço desse imenso salto nas propriedades do animal humano permanece. Todo indivíduo, em um dado momento, se estabiliza, equilibra, seus componentes são devolvidos ao estado de equilíbrio da matéria. Átomos e moléculas voltam ao ambiente para servir de insumo aos micróbios. Eles vão reiniciar processos de desequilíbrio e instabilidade que são o motor material que sustenta a vida e dão a consciência os atributos que chamamos de o espírito da espécie e a alma do indivíduo.
Assim, a clássica separação entre a matéria e a alma se dissolve num contínuo de eventos que se desdobram em saltos de estado e aumento de potência. A mente consiste num estado relacional de um conjunto de fenômenos materiais: a eletroquímica molecular das sinapses, por exemplo.
A verdadeira distinção está entre o reversível, que não cede a passagem do tempo e o irreversível, que tem a marca insuperável da passagem do tempo.
A matéria inerte mantém em sua forma equilibrada a reversibilidade. Os cálculos da física não são afetados pela direção da seta do tempo.
Os elementos materiais, em sua configuração que caracteriza a vida, estão submetidos ao caráter irreversível do tempo. Dito de outro jeito, a incerteza, a instabilidade e o desequilíbrio são as condições inerentes a tudo que designamos como vivo.
Desse modo, segundo Prigogine, a consciência como um dos atributos conhecidos da vida, tem relação direta e inerente à matéria. O que pensa em nós são as relações entre as elementos que nos compõem.