Não sabemos de que conjunto de fenômenos, nem de que forma, a mente surge e opera. Sentimos a nós mesmos de modo que nos vemos agindo no mesmo instante em que agimos.
Essa noção de si mesmo que acompanha nossas existências é definida como consciência. No entanto, tem sido muito difícil dizer como (e o que significa) saber que existimos. Refletir sobre – e para si mesmo – essa existência, integrando memória e expectativa, numa narrativa constante sobre nós mesmos é algo tão corriqueiro e superficial, quanto misterioso.
Na medida em que vamos entendendo os processos mentais e as linguagens de outros animais podemos começar a entender melhor a relação entre as estruturas do cérebro e a mente. Com novas tecnologias de exames de imagem em tempo real é possível que venhamos a desenvolver teorias mais complexas sobre a mente.
De todo o modo, parece provável que a consciência seja tanto o efeito eletroquímico das sinapses entre os neurônios, quanto da subjetividade e da intersubjetividade. A interação entre as mentes no meio sócio afetivo é condição para o desenvolvimento de nossa linguagem. É o nível de complexidade da linguagem que permite a criação do sentido que articula nossos pensamentos.
As sensações são expressas na linguagem e os pensamentos, uma vez formulados, se voltam sobre as sensações e tornam o sentimento uma régua de valores que permite a elaboração de conceitos ainda mais complexos. O objetivo se torna subjetivo e o saber instintivo transforma-se em conhecimento. O primeiro passa pelos genes de uma geração a outra, o seguinte depende de registros de memória e aprendizagem.
Nas cerca de 40 mil gerações de humanos, desde o surgimento da espécie, o progresso do conhecimento tem se mostrado exponencial. Um único ramo da ciência desenvolve-se a partir da combinação dos esforços de incontáveis mentes. No entanto, cada vez mais esse processo escapa da capacidade de processamento das mentes individuais. Assim, a complexidade parece estar avançando para além da capacidade de nossa compreensão.
Sempre existimos num ambiente que não era plenamente conhecido. Acumulávamos os conhecimentos necessários a sobrevivência imediata dos indivíduos e coletividades e seguíamos em frente. Atualmente, habitamos um mundo ainda mais complexo. Além de seguirmos não conhecendo a totalidade de fatores de nosso ambiente, já não entendemos as ferramentas e os sistemas complexos que nós mesmos criamos e dos quais somos dependentes. E cada vez mais, seremos ultrapassados por algoritmos inteligentes. A inteligência artificial está se provando mais capaz e eficiente do que nossas escolhas conscientes.
Se os humanos não causarem algum tipo de cataclismo ou catástrofe (como as mudanças climáticas ou guerras nucleares) que faça a civilização retroceder em termos tecnológicos, teremos que incorporar habilidades de nossas ferramentas a nosso arsenal biológico, mudando totalmente a noção de humanidade que utilizamos até aqui e agora. Há inúmeras evidências de que esse processo já está em movimento.
Do modo misterioso – como nosso corpo, na interação de suas células, parece produzir o ser consciente que suspeitamos ser – nossas ações ao longo de incontáveis gerações estão criando algo semelhante a um gigantesco organismo que está crescendo a partir de nossos corpos. Ele se expandiu por todo o planeta para tornar a terra inteira um organismo cibernético, constituído por máquinas e tecidos vivos.
Assim, se a mente estiver relacionada ao funcionamento de nossa estrutura biológica, se ela for uma máquina ou uma espécie de algoritmo inteligente, nada nos impede de entender o desenvolvimento de ferramentas cognitivas como sendo um desenvolvimento natural partindo de nós mesmos para seguir evoluindo em outras e mais complexas formas de vida cibernéticas.
Talvez nós sejamos a alma das máquinas…
Por Raphael
Oi Marco,
A máquina é a imitação do humano, mas não raro a criatura parece estar superando seu criador.
É mais ou menos como aquele poema de Fernando Pessoa:
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente…”
Através das máquinas, os homens sentem que são seus próprios deuses, explorando limites ou passando de todos os limites…Eu fico com a segunda opção.
AbraSUS