Faz tempo que eu percebi que a noção de felicidade pressupõe um profundo individualismo. A expectativa de ser feliz implica na ilusão de não sentir nenhuma infelicidade, apesar do sofrimento dos outros.
A questão é, com qual infelicidade alheia, você poderia, mesmo assim, se sentir livre de qualquer amargura?
Só você; você e alguns de seus amores; você e toda sua família; você e todos os seus amigos…
Quais as infelicidades alheias que não poderiam perturbar a plenitude da felicidade que o liberalismo individualista e o capitalismo financeiro nos prometem?
O termo felicidade é usado como sinônimo de uma vida onde o acontecimento e suas provocações não teriam efeito. O mito da felicidade implica em uma existência sem movimento que funciona como moeda de troca das convenções sociais que nos aprisionam.
Então, prefiro a alegria em lugar da ilusão da felicidade. Eu sofro porque dou muito valor a tudo que amo e, desse modo, me afeto com o que se passa com meus amores.
O que faço com a dor é senti-la e me perguntar porque há em mim a necessidade de lamentar. Em geral, é porque o que me faz sofrer está relacionado à importância que dou ao que acontece.
Desse modo há dores que não quero evitar, porque elas decorrem do que acontece com o que e com quem amo. Outros sofrimentos que não estão relacionados a afirmação, os deixo ao largo do caminho e sigo em frente.
A vida dá mais do que tira. As alegrias e dores estão entrelaçadas. Somente vivenciando umas e outras, podemos construir valores que afirmam a vida.
A tua dor me toca, me entristece, porque, ao meu olhar todos têm sua beleza as vezes trágica, as vezes monstruosa e muitas vezes – quase sempre – bela.