CAPS Casa Verde: Vivências do Internato de Saúde Mental

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*Relato de Celson Vinícius Marques da Silva Lima e Jamil Valeriano dos Santos, estudantes do Internato em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, sobre os aprendizados obtidos durante o estágio no CAPS Casa Verde.

O estágio no CAPS Casa Verde foi um momento singular da nossa formação acadêmica. A primeira impressão obtida é, sem dúvidas, a de conforto: o serviço é desempenhado em uma casa espaçosa com ambientes bem aproveitados e cheios de artes desenvolvidas pelos usuários. A Biblioteca “Caixinha de Leitura”, a Oficina de Bordado e o Brechó ganham papel de protagonismo perante os consultórios, a sala de enfermagem e a farmácia. Diálogos, jogos e momentos coletivos se sobressaem aos jalecos, estetoscópios e outras ferramentas comuns em hospitais.

Algumas das atividades das quais participamos foram a meditação, a catalogação das peças do brechó, a dança e as rodas de conversa. Cada uma com a sua proposta. Cada uma com o seu objetivo. A produção de um bolo, nesse caso, não é uma simples atividade para ocupar os usuários durante uma manhã, mas, sim, uma atividade planejada na semana anterior, executada por todas/os/es e que, ao final, promove um debate entre o grupo sobre as etapas do processo, sobre a sensação de fazer o bolo e sobre o que poderia ser melhorado no processo. As rodas de conversa eram momentos para falar sobre como tinham sido os últimos dias, o que tinham feito dentro e fora do CAPS e o que gostariam de fazer nas próximas semanas. Nenhuma atividade, portanto, era vazia e, de diferentes formas, buscavam contribuir com o projeto terapêutico e com a melhoria da qualidade de vida das pessoas que utilizam o serviço.

Outro ponto alto da vivência no CAPS foi a interação com os usuários e profissionais. Diversas eram as conversas e os aprendizados com as pessoas ali presentes. Com os usuários, foi muito importante conhecer as histórias de vida, conversar sobre família, redes de apoio e as atividades que gostavam de desempenhar fora do serviço. Com os profissionais, foi interessante conversar sobre as experiências de cada um, sobre a visão que tinham do serviço e o compromisso com a luta antimanicomial.

Limitações, claramente, existem. O local conta com um quadro reduzido de funcionárias/os e tem uma dependência financeira da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). No entanto, pudemos acompanhar, por exemplo, uma reunião da equipe multiprofissional com a coordenação do CRAS Pitanguinha e a costura de um acordo para a realização de aulas de capoeira no espaço do CAPS. Somado a isso, presenciamos a luta constante para que o CAPS seja habilitado junto ao Ministério da Saúde. Isso quer dizer que, mesmo com as limitações de recursos humanos e financeiros, a equipe multiprofissional não se restringe e está disposta a procurar melhorias para o serviço.

Podemos dizer, portanto, que essas poucas – e intensas – semanas de vivência no CAPS trouxeram uma nova perspectiva de clínica ampliada, de formação/fortalecimento de vínculos, bem como trouxeram uma nova perspectiva da atuação das diferentes áreas de saúde na luta contra o preconceito e estigmatização das pessoas com sofrimento mental.