Espaço-tempo e matéria

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Ser de modo provisório e derivar indefinidamente para outras formas de ser é a marca constante de todas as partes que nos constituem. Nossas moléculas, átomos e partículas elementares transitam de um modo para outro até se dissolverem da ordem que identificamos com o conceito de estar vivo. Uma certa ordem vital de 4,5 bilhões de anos parece estar constituindo relações dinâmicas de interação, conexão e desconexão que precedem nosso modo de estar e pensar o mundo. Então, a consciência poderá ser explicada pelo nosso conhecimento sobre a realidade antes que ela seja capaz de explicar a realidade.

Por isso, por exemplo, a linguagem – da forma como a exercemos e entendemos – ainda não pode explicar o fenômeno do tempo. Mente e linguagem são formas que emergem no interior do fluxo temporal. O desconhecimento precede o conhecimento do mesmo modo que a consciência sucede o inconsciente. Saber é um estado que pode ir e voltar, do mesmo modo que consciência e inconsciência se intercalam para todos nós.

A forma como experimentamos o fluxo temporal é determinada no e pelo interior no qual encontramos a expressão e representação de nossa existência. Não é possível dizer o que é o tempo porque fora dele não há como significar qualquer coisa. Pensamos no modo de um fluxo que articula memória e probabilidade. Sabemos como somos pela memória e pela constante tentativa de prever o que poderá nos acontecer. Ou seja, estar no mundo se expressa numa forma temporal em que, dado um estado inicial peculiar, a temperatura sempre decai, sempre se aumenta a entropia do mundo ao nosso redor.

A ideia de eternidade, mais do que a duração infinita de infinitos intervalos, dissolve a noção de fruição do tempo. Então, nossa mais cara forma de escapar da finitude é, de fato, uma fuga da existência, dado que os processos físicos e térmicos implicados no estado de todos os entes é sua transitoriedade para estados de maior entropia ou de dissipação constante do calor. É a seta do tempo válida para nosso universo local. Fora desse quintal cósmico o tempo deixa de fazer sentido, assim como a noção de simultaneidade se desfaz na velocidade ou na densidade dos corpos. Percebemos tudo fruindo de um estado para o outro porque é precisamente isso que significa existir: Sair de uma condição para outra, ainda que em frequências diferentes de aceleração e densidade.

Nas proximidades de um corpo denso o tempo é mais lento, em altas velocidades o tempo passa mais lentamente. O conhecimento da realidade nos termos da relatividade geral e restrita de Einstein é mais amplo e preciso do que o conhecimento da física newtoniana. Filosofias, teologias e modos de vida estão mudando de maneira revolucionária. Pensamos que isso tem como causa a aceleração das mudanças tecnológicas. O fato é que as novas tecnologias estão surgindo como consequência de uma rápida mudança do significado do espaço, do tempo de da matéria. O modo de pensar dos cientistas se descolou do pensamento filosófico, teológico e do senso comum. Ainda assim, se ele não nos levar ao colapso da civilização, ou precisamente para isso não acontecer, teremos que expandir para o senso comum e para a religiosidade estas novas formas de conhecimento e significado que estão emergindo das constatações da ciência.