Micro resenha

7 votos

Mitologia, loucura e riso, Markus Gabriel e Slavoj Zizek.

https://play.google.com/store/books/details?id=TP7tDwAAQBAJ

Algumas notas:

Um ponto de vista a partir do nada não seria um ponto de vista. Para além das fronteiras de tudo que há resta o vazio, propriamente, o nada.

Assim, um ponto de vista que fosse abrangente o suficiente para colocar tudo em foco, viria precisamente do nada. Exatamente de onde nada pode vir.

Estar ao alcance das nossas considerações, de nosso conhecimento, portanto, implica em estar no interior de uma totalidade inalcançável. Para todos os efeitos a totalidade é inexistente, situa-se “no” nada.

Algo assim, os limites da chamada realidade, constituem o limite do cognoscível e, ao mesmo tempo, a sua possibilidade.

O mundo não é somente o objeto de teorias que tentam explicá-lo. Ele contém essas teorias, dado que não existe teoria transcendente ao mundo que a contém.

Sendo um fato do mundo a diversidade de perspectivas, torna-se inerente ao mundo o seu caráter contraditório expressado na multiplicidade de teorias contraditórias e alternativas.

“O mundo é uma unidade paradoxal que contradiz a si mesma.”
Assim, “a verdade só é possível tendo como pano de fundo a discordância, a diferença e o desentendimento”.

O conhecimento refere-se a qual parcela do infinito? O quão distante do infinito do saber pode estar um caçador coletor há 150 mil anos no passado e um ser humano com um smartphone na mão lendo essa questão? Da perspectiva do infinito ambos estão um, tão longe, quanto o outro.

A beleza, e há beleza, emerge de nosso encontro com a dureza das coisas que fazem os seres se dissolverem, na sua persistência em se mover e reorganizarem-se na diversidade sem fim do tempo e da extensão.

Mas no espírito nada morre. Tudo toma a forma atemporal dos sentimentos e ideias que se colocam como a face oposta ao vazio, do abismo sem fim onde está o nada que envolve tudo o que existe.

Desejo e liberdade

Tentar realizar desejos é simples. O instinto vital exige essa habilidade. O que é próprio de seres conscientes é entender e tratar desejos como alternativas.

Ou seja, exercer a liberdade de ser livre em relação ao que nos é instintivo.

Quem faz o que quer, portanto é livre como uma árvore que busca para si a maior exposição possível de suas folhas, tanto a luz do sol, como a umidade do orvalho.

A liberdade humana exige a consciência sobre o que governa nossos desejos e a capacidade, então, de tratar as possibilidades do instinto, como alternativas de valor segundo seu potencial de afirmar a vida.

A liberdade é o oposto do desregramento, no sentido de se constituir na escolha consciente e autônoma dos limites que demarcam agir ou renunciar a ação.

Tudo é noite:

O excesso de luz, o preto e o alvíssimo. Sem tonalidade, sem diferença e perspectiva, nada é perceptível, nada é…

Tudo que é, varia, oscila na noite absoluta. Uma fronteira abissal que é apenas fronteira, linha sem dimensão: O nada além de tudo, o nada que a tudo contém.

Para ser o autor de tudo, para fazer aparecer o absoluto, é preciso, simultaneamente, gestar o nada como o continente, a linha limite, a fronteira, que define esse tudo em seu interior. Ou seja, o autor de tudo é o autor de nada respectivamente.

A exterioridade é um artifício do intelecto para a compreensão do mundo. Por seu caráter reflexivo, o intelecto produz uma imagem espelhada do mundo que é ao mesmo tempo irreal e a única realidade que podemos acessar.