Novembro Roxo é destacado no Materno-Infantil com histórias de acolhimento, humanização e superação

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Yasmin com as filhas que estão prestes a deixar a maternidade

Yasmin acompanha a rotina das filhas gêmeas, Heloá e Heloísa, desde o dia 14 de Setembro, no Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus. Às 22 horas do dia anterior, ela estava em casa quando percebeu a bolsa estourar e saiu às pressas de Valença, no baixo-sul da Bahia, para passar por um parto cesariano de emergência em Ilhéus. As duas meninas nasceram prematuramente, com 32 semanas, e precisaram de cuidados especiais na UTI Neonatal. A G2, Heloísa, passou um pouco mais de tempo na Unidade de Terapia Intensiva enquanto Heloá, seguia na UTI Intermediária. As duas crianças só se encontraram na Ucinca (Unidade de Cuidados Canguru), no último dia 2 de novembro.

“Foi uma fase difícil, complexa, ter que dar atenção a duas recém-nascidas em locais diferentes”, reconhece Yasmin. O pai das crianças, enquanto esteve de férias e beneficiado pelo o auxílio paternidade, ficou perto da puérpera, auxiliando. Mas, com o tempo, teve que retornar ao trabalho. Depois vieram a mãe e a avó dela, que seguem alternando a atenção às três. Heloá, hoje com 2.900 Kg já pode ter alta médica. Yasmin aguarda ansiosa Heloísa, com 1.905 kg, atingir o peso mínimo de 2 kg para poder voltar pra casa. Falta pouco.

Problema nacional

A história de Yasmin se repete com a de muitas mulheres que passam pelo parto prematuro no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, aproximadamente 340 mil bebês nascem de forma prematura todos os anos, totalizando seis ocorrências a cada dez minutos no país. Por este motivo, Novembro é reconhecido como o mês internacional de sensibilização da prematuridade, que tem como objetivo conscientizar a população sobre os cuidados e prevenção do parto prematuro.

Este ano o tema mais uma vez gira em torno do contato pele a pele: “Pequenas ações, GRANDE IMPACTO: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares”. O Canguru é uma iniciativa colocada em prática, com eficiência, no HMIJS. De maio de 2022 a 31 de Outubro de 2023, a Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru do HMIJS já abrigou 187 recém-nascidos prematuros e de baixo peso.

Debates

Para este Novembro Roxo, o Hospital Materno-Infantil planejou uma série de debates sobre o tema, que irão ocorrer na segunda quinzena. Para além da temática de 2023, também será debatido “O melhor cuidado na prematuridade pelo HMIJS” e ainda ocorrerá uma Mesa redonda com os pais de prematuros internados que já tenham passado por esta experiência.

Bia, o esposo e Oliver Samuel em visita ao hospital, comemorando a vida.

O acolhimento e o trabalho de humanização do hospital envolvendo pais e recém-nascidos são, também, marcas importantes do Materno-Infantil. Oliver Samuel é um dos símbolos da prematuridade no hospital. Nasceu de 29 semanas e 6 dias. Foram 2 meses, mais precisamente 68 dias, de altos e baixos na UTI. “Nós ficamos conhecidos como “os pais de Oliver”, porque sempre éramos nós dois, cuidando dele mesmo sem poder manusear, rezando, cantando e, por incrível que pareça, até rindo ao lado da incubadora, notando cada detalhezinho daquela pessoa pequena”, relata Bia, a mãe. “Eu acredito que exista muitas formas de maternar e nem sempre o vínculo mãe-filho surge assim que o bebê sai do ventre. Comigo e com Oliver foi imediato e foi o amor por essa pessoinha que me fez preferir juntar as poucas forças que eu tinha pra lutar por ele todos os dias, do que simplesmente desistir. E ninguém desistiu dele, nem nós, nem os médicos, nem Deus”, completa, emocionada.

Vínculos fortes

Os vínculos dos pais com a equipe do hospital ficaram tão fortes, que volta e meia, Bia participa de ações internas na unidade. Tatuadora profissional, ele produz pinturas em guache nas barrigas das gestantes internadas. Oliver Samuel, nome que homenageia a um dos médicos que a atendeu, acaba de fazer uma visita ao hospital. Com saúde, foi recebido com festa pelas pessoas que tempos atrás dividiram as angústias com a família.

As ações deste ano no Hospital Materno-Infantil também incluem um olhar sobre os índices de prematuridade maiores em indígenas e mulheres negras, apontados em pesquisas e estudos sobre o tema. Diferentes fatores influenciam a ocorrência da prematuridade, tais como genéticos, sociodemográficos, ambientais e, principalmente, aqueles relacionados à gestação. No próximo dia 20, comemora-se o Dia da Consciência Negra e o Comitê de Prevenção e Combate ao Racismo Institucional da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS), entidade gestora da unidade de saúde, vai inserir essa discussão na unidade hospitalar. O coordenador Saulo de Tarso, explica que a proposta do comitê é participar ativamente de todos os serviços da FESF SUS, fazendo um giro, mostrando quem é o comitê, como é que ele foi construído.

O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio foi inaugurado em dezembro de 2021 pelo Governo da Bahia. Todo o projeto do hospital está baseado na humanização do cuidado, nos direitos da mulher e da criança e na consolidação do Sistema Único de Saúde. O hospital é um dos mais modernos do Brasil e foi projetado para atender a todos os municípios da região de Ilhéus e de Valença, no baixo-sul do Estado. Mas já recebe pacientes de todas as regiões da Bahia.