O atendimento à crise em saúde mental nos Prontos-Socorros: Um olhar sobre o indivíduo biopsicossocial.

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        A dificuldade enfrentada, tanto por profissionais quanto para usuários, no que tange ao atendimento à crise em saúde mental nas emergências de hospitais gerais, onde muitas vezes o pouco tempo para atender uma grande demanda, acarreta na invisibilidade do indivíduo como ser biopsicossocial, fundamentando-se na velha concepção de loucura, estigmatizado pelo preconceito, e repleto de julgamentos.
    Após a Reforma Psiquiátrica, instalou-se um novo método de tratar os portadores de transtornos mentais, que tinha como objetivo a desinstitucionalização e a reinserção social. Nos anos seguintes, os Hospitais psiquiátricos começam a ser fechados e os portadores de transtornos mentais passam a ser atendidos nos hospitais gerais, em um setor específico, que conhecemos hoje como a Psiquiatria. No momento da crise em saúde mental os pacientes devem procurar as emergências dos hospitais gerais, estes no qual lidam com todos os tipos de agravos e enfermidades médicas, muitas vezes despreparados para atender a demanda da saúde mental.     

      A crise em saúde mental para alguns autores pode ser considerado um momento de desestabilização em que o indivíduo parece não dar conta das intensidades afetivas que lhe ocorrem naquele instante, afetando tanto o próprio sujeito, quanto aqueles ao seu redor. Para a ciência psiquiátrica atual, seria o ápice da desrazão, desorganização de todo o contexto existencial e, atribuído um sentido de adoecimento. Porém é importante quebrar a associação comumente feita entre crise e periculosidade, que produz medo nos profissionais em se aproximar e escutar o paciente e o contexto em que esta crise surgiu.
     A triagem realizada nas Emergências e Prontos-Socorros serve para organização das informações suficientes para comunicar à equipe clínica qual paciente pode esperar e qual deve ser atendido imediatamente. Nesse caso, o que é preocupante são os impactos da invisibilidade que tal organização do trabalho provoca no cuidado ao usuário que se encontra em uma situação de crise em saúde mental. Devendo assim destacar e propor mais debates a respeito, a fim de que as demandas de saúde mental, tanto de pacientes quanto de equipes profissionais, possam ser consideradas como parte indispensável da saúde e relevantes aos cuidados mesmo em situações de emergências, trazendo muitos benefícios aos serviços de saúde, aos trabalhadores e aos seus usuários.