O que pode um medicamento? Relato do VII Congresso Brasileiro de Uso Racional de Medicamentos

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Philippe Pignarre se pergunta, há muito tempo, sobre o caráter dúbio disso que é ao mesmo tempo um produto biológico e social.  “O que é um medicamento?”

Afinal, como lembra Eduardo Vianna Vargas, o que difere uma droga ilegal, da legal e do alimento é a ciência e a moral de cada tempo.

Alguma dúvida? Basta lembrar que substâncias tão simples como o café, que era considerada substância ilegal, passou a ser inserida em nosso cotidiano.

Então sabemos que o que separa o uso das substâncias é uma discussão sociohistórica, mas afinal, porque o nosso tempo é tão dependente de medicamentos?

Desde 2007, o Brasil pauta essa discussão seguindo as que ocorreram na Conferência Mundial sobre Uso Racional de Medicamentos ocorrida em Nairobi, no Quênia, em 1985. Nem sempre a oferta de medicamentos se faz necessária, será que tudo precisa ser tratado com medicametos? E será que os medicamentos que são ofertados, nos trazem os efeitos desejados?

Foi para continuar com essas discussões que o VII Congresso Brasileiro de Uso Racional de Medicamentos ocorreu nos dias 10, 11 e 12 de Dezembro.

Eixo central do SUS, a educação permanente foi posta em prática com o seguinte tema dessa edição: Desafios e perspectivas para o uso racional de medicamentos na prática interprofissional

Se são os profissionais de saúde que atuam diretamente em práticas e cenários perpassados pelo uso de medicamentos, nada mais justo do que contarmos com a presença de todos os profissionais que compõem as equipes de saúde.

Como lembra a mensagem de boas-vindas da Comissão Científica:

Com o Congresso, queremos subsidiar a elaboração de diretrizes e estratégias para a promoção do uso racional de medicamentos, visando ampliar e qualificar o acesso a medicamentos que atendam aos critérios de qualidade, segurança e eficácia. […] Serão três dias de cursos, oficinas, palestras, mesas redondas e atividades interativas. Prepare-se para participar ativamente desse programa!

E participar de forma ativa e engajada foi marca central do congresso.

Nos três dias, além de participarem de mesas e URM Talks, o debate e a proposição de ações foram contempladas em oficinas. A construção de políticas públicas, aliando gestores, trabalhadores dos serviços e pesquisadores criou espaços de troca de ideias e interação.

E como gerar consensos? Para isso, as atividades contaram com a relatoria que articulou as principais ideias em painéis gráficos expostos ao final do evento.

Como gerar uma cultura de Promoção do Uso Racional de Medicamentos? Com certeza com a participação e inclusão dos que trabalham no SUS nessa tarefa mostrou-se essencial.

O tema da interprofissionalidade, quando “membros ou estudantes de duas ou mais profissões aprendem entre si, com e sobre as outras, para melhorar a colaboração e a qualidade dos cuidados e serviços. […] para preparar o pessoal de saúde para a prática colaborativa.” Foi abordado como uma estratégia importante para qualificar as ações de saúde.

Afinal, nem tudo que é prescrito é necessário, e é preciso buscar evidências e alternativas para a desprescrição de medicamentos em pacientes, e que a mesma ocorra de forma responsável.

A cultura da medicalização e o uso compulsório de medicamentos é marca de nosso tempo, para tentar mudar essa lógica, além de trazer dados, pesquisas e evidências é preciso pensar em formas estéticas, em outras linguagens para falar sobre o tema.