Passado o dia 18 de Maio é ainda importante manter aceso o debate sobre as formas com que todas as diferenças são tratadas. Afinal, se conseguimos, a duras penas, manter o projeto antimanicomial, quais outra frentes estão sendo tensionadas na arena de debate da saúde mental?
Recentemente, em uma aula de Antropologia da Saúde, para os cursos de saúde da UFOPA fiz um pequeno exercício epidemiológico: quantos são os alunos que fazem uso de álcool, de forma leve, moderada e pesada?
O resultado, nada expressivo, foram de 4 alunos que ingeriam álcool 1 vez ao ano, e menos ainda os que consumiam todas as semanas.
“Professor, eu só tomo Ritalina mesmo” – disse uma aluna.
O sinal está aceso, afinal, o que significar jovens universitários estarem associando sua experiência acadêmica mais aos psicofármacos do que às festas e uso, por vezes abusivos, de álcool?
Esse é o debate que precisa ser feito todos os anos, afinal, se tiramos as pessoas dos manicômios, qual outra camisa de força está sendo proposta?
Talvez seja esse o motivo dos psicofármacos serem tão largamente utilizados, sendo o Rivotril, (Clonazepam), um dos medicamentos mais vendidos no Brasil.
Nos Estados Unidos, um recente documentário, disponível no Netflix, nos apresenta a realidades mais impactantes, é a cultura da competição, na sua vertente de produção desenfreada, que está sendo ensinada nas universidades?
Afinal, do ponto de vista antiproibicionista, o uso de psicofármacos em si não é problemático, mas o sentido para o seu uso, como simples otimização do produtivismo.
ritalina, cocaína, crack, metaanfetamina
Como qualificar e diferenciar os diversos usos possíveis das substâncias?
Outro documentário recém-lançado é o Geração Ritalina, que mostra relatos de usuários de psicofármacos e pacientes mentais.
O debate segue ainda mais forte com o filme Sem Tarja que se questiona: qual o papel da indústria farmacêutica nesse cenário de medicalização?
https://www.facebook.com/semtarja/videos/1975756139350066/
https://www.facebook.com/semtarja
Um debate que se faz necessário, afinal, como a teoria nos lembra, o uso dos psicofármacos é apenas a ponta do iceberg de uma lógica medicalizante que silencia encontros e potências.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Olá Rui,
Saudamos teus posts sempre instigantes de maiores reflexões diante dos vetores ético-políticos do uso contemporâneo de todos os tipos de fármacos. Como vc nos lembra, é preciso centrar o olhar no que está em jogo, ou seja, com que mundo nos agenciamos ao fazer uso de drogas e do porque destas e não outras.
Como sabemos, a prática de nos misturar com outras substâncias existe desde que a humanidade existe. E nunca como hoje fizemos tantas trocas com dispositivos, próteses, medicamentos e procedimentos de intervenção nos corpos.
Saiu o livro do Paul Beatriz Preciado, Testo Junkie: sexo, drogas e biopolitica na era farmacopornográfica, com uma abordagem de toda a questão dos novos controles da vida por meio da administração da sexualidade.
O livro ilumina várias questões que subjazem as discussões de gênero hoje e as intervenções farmacológicas.