Respeito a diversidade, é respeito a vida. É plantar amor e colher gratidão.
Um hospital de média e alta complexidade, que tem sido o lar ou mais carinhosamente chamado de “oca” pela sua tribo, vive um jovem indiozinho que acabou de completar 12 anos. Oriundo de uma tribo afastada do centro da cidade, que possuem linguagem (eles não falam português), músicas, modos de viver e cultura diferente da nossa – o que é particularmente encantador e fascinante.
No entanto, diante de todas batalhas que já teve, o indiozinho já entende o essencial em português para uma boa comunicação e entender pelas conversas médicas que tem algo de errado com ele. O mocinho tem LLA (Leucemia Linfoide Aguda) e vários outros comprometimentos devido suas 3 tentativas de tratamento com quimioterapia. Foram ofertadas todos os melhores tratamentos possíveis, mas recentemente entrou em cuidados paliativos. A família foi informada sobre a dolorosa verdade com a ajuda de um intérprete.
É válido ressaltar que a equipe fez de tudo pelo indiozinho, principalmente porque queriam quebrar o estigma de que ainda nenhum índio se curou de LLA. E ainda não se compreendeu o motivo até então.
Pois bem, a família optou por continuar a realizar os cuidados no hospital, mas o mais importante no momento foi como a equipe do hospital lida com a situação, respeitando as particularidades da sua cultura, sendo humanos. E tem vivido seus últimos dias sendo regado de amor por seus familiares, esquecendo aquela e ideia de cuidados de fim de vida sombrios, em um leito frio.
Recentemente fez seus 12 anos, e foi até liberada a entrada de sua irmã de 5 anos, para participar da festinha, e mais vários outros parentes. Foi em uma área do hospital igual uma maloca, teve pipoca, doce, pão de queijo e bolo. Teve fantasia do seu super herói favorito. E a parte mais linda, foi quando todos os índios presentes cantaram juntos, com violão. Nos contaram que costumam cantar para celebrar a vida. Foi emocionante. Foi notório a felicidade do mocinho em ter vivenciado todo aquele momento.
E desde então, foi liberado para comer suas comidas típicas, como peixe no tucupi, e assim como para tomar banho de ervas e mais outras particularidades da sua tribo.
A dor da perda de um filho não vai mudar, o processo de luto já se iniciou, mas seus últimos dias serão marcados também por lindos momentos juntos, comendo juntos o que sempre comiam fora do âmbito hospitalar, cantando no seu idioma, ao lado das pessoas que marcaram sua vida até aqui, respeitando sua diversidade, quebrando uma rotina hospitalar comummente marcada por dias exclusivamente tristes, mas ofertando cuidados de acordo com sua vontade e desejos, com empatia e amor.
-Autonomia, cuidado e respeito.
Por ruiharayama
Muito interessante Nathalia, você refletiu o que é preciso acordar e não acordar para que esse cenário e acolhimento aconteça? Como pensar em protocolos de cuidados paliativos que possam atender às especificidades culturais?