Sarampo: nenhum estado brasileiro atingiu a meta de vacinação infantil

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(Texto: Bel Levy | Crédito da imagem: Campanha de vacinação | Fiocruz pra Você 2014 | Ascom/Icict/Fiocruz)

Dia 02 de maio começou no Brasil a Campanha Nacional contra o Sarampo de 2022. Voltada para crianças de seis meses a cinco anos, a meta da campanha é alcançar 95% da população nessa faixa etária.

Em 2021, nenhum estado brasileiro atingiu a meta de vacinação infantil contra sarampo, que é de 95% das crianças. Quando olhamos para os mais de 5.500 municípios, só 660 (cerca de 12%) alcançaram essa taxa no ano passado.

Os indicadores de imunização também são preocupantes. A vacinação contra o sarampo é feita em duas doses, junto com rubéola e coqueluche. Em 2021, de cada três crianças brasileiras que tomaram a primeira dose do imunizante, uma não voltou para completar o esquema vacinal.

O levantamento é do VAX*SIM, projeto que cruza grandes bases de dados para investigar o papel das mídias sociais, do Programa Bolsa-Família e do acesso à Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos.

“O Brasil tem um programa nacional de imunização estruturado, que serve de referência para o mundo inteiro. A vacinação infantil é uma das ações mais importantes para prevenir mortes evitáveis de crianças de até 5 anos, com um excelente custo-benefício. É inaceitável que tenhamos que lamentar mortes por uma doença para a qual há vacina disponível de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) há décadas”, afirma Patricia de Moraes Mello Boccolini, coordenadora do VAX*SIM e pesquisadora do Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão Social (NIPPIS), que integra pesquisadores do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (Unifase) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Em 2020, o Brasil registrou o recorde de 10 mortes de crianças menores de 5 anos por sarampo. É o maior número das últimas duas décadas. Entre 2018 e 2021, 26 crianças nessa faixa etária morreram pela doença, um retrocesso em um país que entre 2000 e 2017 havia registrado uma morte, no ano de 2013.

“Mortes infantis por sarampo podem ser evitadas com uma estratégia simples e consolidada no SUS: a vacinação. Uma única morte nesse contexto pode ser considerada uma tragédia”, aponta Patrícia.

O número de hospitalizações por sarampo também disparou nos últimos anos. Entre 2018 e 2021, 1.606 crianças foram hospitalizadas com a doença no Brasil. Nos quatro anos anteriores, entre 2014 e 2017, o país havia registrado um total de 137 hospitalizações infantis por sarampo.

Em 2016, o Brasil recebeu da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) o certificado de país livre de sarampo. Três anos depois, em 2019, o status foi retirado após a confirmação de um caso endêmico da doença no Pará.

Sobre o VAX*SIM
O objetivo do projeto é compreender e analisar os determinantes da cobertura vacinal no território brasileiro utilizando um modelo teórico-conceitual para avaliar sua associação com fatores socioeconômicos, cobertura da atenção primária em saúde (APS) e do Programa Bolsa Família (PBF), além da influência dos padrões de disseminação de conteúdos sobre imunização nas mídias sociais.

O projeto é parte do Observatório de Saúde na Infância – Observa Infância, uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto aos sistemas nacionais de informação. As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/UNIFASE), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.

Patricia Boccolini é pesquisadora do Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão Social (NIPPIS), fruto de acordo de colaboração entre o Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). É professora adjunta da Faculdade de Medicina de Petrópolis, da Unifase, e pesquisadora colaboradora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). É graduada em Ciências Sociais (2002) e História (2007) pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ). Desenvolve pesquisas e estudos sobre avaliação de políticas públicas em saúde e sistemas de informação em saúde.