Território – Uma Própria Narrativa

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Ao ler o trabalho: OS CAPS I – INTERIORIZAÇÃO E CAPILARIZAÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL de Luciana Barcellos Fossi, contido no Luta antimanicomial e os 30 anos da lei estadual da reforma psiquiátrica – RS: rumo a novos avanços na garantia de direitos pôde-se perceber a importância da criação dos CAPS no processo da reforma psiquiátrica.

Importância essa na qual relembra que com a criação dos CAPS como um programa estadual do Rio Grande do Sul acabou se tornando um programa federal no qual acolhe pessoas em sofrimento mental por todo Brasil. Esse feito há de ser relembrado uma vez que o CAPS tem para si uma lógica de protagonismo e autonomia do próprio usuário em seu tratamento e permanência na sociedade.

O funcionamento do CAPS tem muitas relevâncias na sua maneira de operação uma delas é o respeito ao território dos usuários, uma vez que há de se entender não só o usuário, mas onde habita e como se formou. Assim o serviço pode fazer um acolhimento além de respeitoso, ainda mais humanizado. Dessa maneira há além do respeito ao território do usuário, há uma troca de conhecimentos, não colocando o usuário numa posição inferiorizada ou de menor saber sobre si mesmo e seu entorno. Pelo contrário, nessa troca há maior valorização à formação do usuário como pessoa e o entendimento do território, seu funcionamento e maiores maneiras de agência na situação.

Ainda há uma noção de maior integração do serviço de saúde mental não se findando apenas no serviço médico, psicológico, psiquiátrico, mas toda uma rede de saúde e de promoção de dignidade. Ou seja, há um maior entendimento de saúde não apenas a física e grandes chavões “consagrados” de saberes médicos, mas conta com equipe de diversos setores da saúde, bem-estar e social. Ou seja, a saúde mental não começa e termina apenas no psi mas em tudo que influencia a saúde e dignidade da pessoa.

Aliado a isso, como deve ter ficado um tanto intuitivo, há um maior entendimento de cuidado e com ele a reboque a crença na responsabilidade do usuário. Ou seja, ao devolver o senso de responsabilidade há por encadeamento a autonomia, liberdade e protagonismo do usuário em seu processo terapêutico, uma vez que se insere em grupos terapêuticos, oficinas terapêuticas e de geração de renda, envolvimento social promovendo apoio e sendo apoiado por toda uma rede que se forma no serviço.

A integralidade compreende o diálogo entre os usuários e profissionais de saúde, por meio do qual se desenham projetos terapêuticos pautados nas compreensões dos usuários e nas necessidades por ele apresentadas. Trata-se da garantia da atenção progressiva em saúde mental em uma perspectiva não só assistencial, mas também integral, percebendo o usuário como protagonista e sujeito em sua totalidade. (Oliveira, Andrade e Goya, 2012, apud. Fossi, 2022)

Além disso nessa integração de serviços de saúde mental, há também a integração informatizada dos serviços de saúde no geral. Ou seja, coma informatização o acesso de prontuários fica disponível a todo o sistema de saúde, não se restringindo à instituição local e unitária de que o usuário acessa, mas de todo serviço de saúde em geral, seja postos de saúde, CAPS, Hospitais, etc. Dessa maneira há maio facilidade de se identificar os processos terapêuticos, paradeiro e medicações de cada usuário e por quais profissionais já passou ou está em terapia, facilitando assim a  troca de informações entre os diversos serviços que compõe o SUS

Após a reforma psiquiátrica foi substituída a lógica de silenciar a pessoa, combater sintomas e forçar padrões de comportamento quando não, tirar de circulação, hoje há o entendimento que o sintoma e crises são momentos emergentes da subjetividade do sujeito a partir daí entende-lo, ao invés de buscar uma suposta integridade mental e repressão.

Isso foi possível após a luta contra a logica manicomial e reformada para uma lógica que compõe esse quadro: a oferta de uma escuta qualificada e mais profunda do que uma busca por findar sintomas e suprimir comportamentos “desviantes”. Ou seja a passagem de uma situação de condenados para uma situação de uma condição não típica. Não havendo mais o encarceramento de pessoas divergentes e que não apresentam risco à sociedade.

A Clínica Ampliada então se desdobra em maiores saberes e práticas, levando em consideração contextualizações de território, gênero, estruturas e condições reais. Levando assim a um maior vinculo com a comunidade em que está inserida e suas próprias narrativas podendo representa-se e não ser desenhada por uma visão de fora de maneira distanciada e desfigurada, como anteriormente.

A tentativa de desverticalização do saber na relação terapêutica, seja psiquiátrica, seja psicológica, tirando do centro o atendimento privado e particular para grupos terapêuticos, oficinas e outras modalidades de escuta e compartilhamento.  Trazendo uma ideia de coletividade e expressão livre, que promove maior qualidade no tratamento e confiança dos usuários, facilitando assim seu tratamento e permanência em sociedade.