Godard e Ferenczi – guias da clínica com crianças

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Hoje voltei a lembrar de dois guias, intercessores potentes prá pensar a clínica com crianças: Jean Luc Godard e Sándor Ferenczi.

O primeiro disse, numa entrevista, que "as crianças são prisioneiros políticos"! Dos adultos, pais, professores, Estado…, conforme o modo como são introduzidas na vida por estes. Comunica-se um mundo nos ensinamentos e disciplinamentos a que estão expostas.

 

Ferenczi, psicanalista meio maldito, observou também que as crianças são capturadas pelo discurso dos adultos. Enquanto elas se encontram no "registro da ternura", por sua própria condição de crianças, estes lhes comunicam uma língua de adultos, marcada pela "paixão", um modo sexualizado de ver o mundo. E aí se instala a confusão de línguas e de mundos. Coisa atualíssima hoje.

 

Minha pacientinha de 9 anos, entre envergonhada e com um sorriso malicioso, diz "precisar" me contar uma cena. Exemplo paradigmático do capítulo "o que dizem as crianças", ou melhor, o que não foi certamente uma fala de criança, mas uma imposição de sentidos "adultos":

– Meu amigo…quer dizer, meu ex-amigo na escola cometeu um crime!

– Como assim?

– Ele passou a mão em mim!!!

– E…

– Como "como assim", Iza? Vc sabe que isso é crime, vc não é psicóloga? Eu não sei o nome do crime, mas vc sabe! ( fica perplexa com o meu "E…" ).

– Minha mãe ficou louca da vida! E o diretor levou ele prá sala dele…E ele saiu de lá todo bonzinho. Meu pai nem sabe, senão…

 

Os adultos comunicaram um excesso de sentido `a cena. se descabelaram e impuseram punições `as crianças, que marcaram para elas a conotação da sexualidade culpada deles. Uma brincadeira anódina entre cças é confundida com o famigerado "abuso sexual" entre um adulto e uma criança ( esse era o nome do crime ).

UFA!!! Um extrato pesadíssimo cai sobre nós, eu e minha menina…Mas, nossos guias/intercessores vêm em nosso encalço!

E RESISTIMOS JUNTAS!!!!!!!!!!!

 

Iza