Lobos em pele de cordeiro.

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Passeando pelas praias da memória, revisito um tema que instiga quando nos referimos ao comportamento dos outros, mas afasta quando o espelho se volta para nós mesmos.
O tema a que me refiro diz respeito às atitudes frente a uma prática denominada ‘lobismo’.

O termo lóbi é derivado do inglês lobby, que é o nome utilizado para designar o vestíbulo das casas ou de edifícios públicos, sendo que nos últimos, representantes de grupos de interesses particulares aguardavam os legisladores e governantes para influenciá-los.
Podemos subentender que o ‘lobismo’ é uma espécie de pressão, praticada por um grupo de pessoas ou organização que tem como atividade buscar influenciar, aberta ou secretamente, decisões do poder público, em favor de determinados interesses privados.
Pressões e manipulações exercidas por lobbies são observadas nas instâncias do Legislativo, Executivo, Judiciário, e também sobre os meios de comunicação. De certa maneira, todos nós fazemos lobby. Um filho faz lobby quando tenta convencer os pais da importância de sua mesada. Os sindicatos fazem lobby quando discutem melhorias nas condições de trabalho com uma empresa. É um jogo de forças e sedução no qual não existem anjos nem demônios, mas sim, interesses, principalmente o interesse econômico.
A defesa de interesses não é algo ilegal, mas pode vir a ser prejudicial quando os interesses das ditas-cujas empresas ferem a Constituição Brasileira ou os interesses dos cidadãos.
Nesse momento, poderiam me perguntar: – E eu com isso?
Diria, em resposta, que estamos mais mergulhados nesse oceano ‘lobistico’ do que pensamos.
Lembro-me de certa situação em que eu ficava impressionada com a atenção e perseverança dos representantes de medicamentos que visitavam os médicos na Unidade de saúde em que eu trabalhava. O efeito dessas visitas ‘solícitas’ era a adoção dos novos medicamentos, agora amplamente receitados pelos profissionais.
Algo parecido foi vivenciado por mim em relação aos suplementos nutricionais ricamente apresentados por nutricionistas recém formadas, comunicativas, com excelente aparência, sorrisos abertos e um bom discurso técnico que as colocam "acima de qualquer suspeita".
Mas, o que está por trás de tanto investimento em brindes, bônus, ofertas, descontos, presentes, patrocínios?

Um patrocinio de evento pode carrear o merchandising de inúmeros interesses. O nome da empresa figurando como apoiador ou patrocinador coloca essa empresa em evidência na memória e no campo de visão do público.

 

Os brindes distribuídos simpaticamente em congressos e eventos trazem em si fortes conteúdos psicológicos e mensagens subliminares.  Promovem o enlaçamento daquele que recebeu um presente que, em maior ou menor escala, sente-se no dever de retribuir.

Como bem disse um amigo, o problema não é o apoio oferecido/fornecido pelos grupos, mas o direcionamento da produção de ‘verdades’ que corroborem com os interesses empresariais e a desqualificação/descarte do conhecimento e experiências que contrariem a lógica do lucro.

Vou pensando sobre isso enquanto recebo um panfleto ricamente ilustrado de um evento sobre qualidade de vida que tem como patrocinador uma das empresas mais poderosas no ramo dos transgênicos.

Ironia? Não! Diria que essa é mais uma estratégia empresarial.

Nós, ovelhinhas desse rebanho é que precisamos estar alertas. O lobo às vezes veste a pele de cordeiro para não ser desmascarado.

 

Desembrulho um presente recebido pelo correio. É uma linda agenda ofertada por outra empresa. Mais uma tentação que, como diria meu avô, está ai para nos testar.

Saudações diretamente do meu ‘pasto’.
Re.j.e