DIÁRIO DE ESTUDO – O ATO DE CUIDAR: a alma dos serviços de saúde?

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 Primeiramente quero deixar registrado nesse "post" a satisfação em poder compartilhar minhas reflexões.Acredito na proposta feita pelo professor Douglas Casarotto,como uma forma de potencializar as nossas idéias,deixando de nos tornar apenas seres "copiadores",como diria estamira,e sim produtores de saberes!

E é por meio dessa rede que venho compartilhar com vocês o texto do Dr . Emerson Elias Merhy,que nos introduz a várias reflexões ,como por exemplo o modelo de atendimento biomédico ainda tomado como único pela maioria dos serviços de saúde,mesmo existindo vários outros modelos de ação.Questiono-me então em que bases estão enrraizadas este modelo?Concerteza nos primórdios acadêmicos da medicina,desde a graduação a forma como é instituida a visão do ser humano,já condiz com o modelo de atendimento utilizado pelos médicos.Segundo Foucault (1994), a medicina clinica constitui-se no segundo paradigma da história da medicina e constrói seu objeto como um saber sobre o indivíduo, tomado como corpo doente que exige uma intervenção que dê conta dessa sua singularidade, abstraindo-a dos demais planos da realidade. Essa é a base da chamada medicina científica e tecnológica atual, construída e constituída nos pilares do positivismo científico (SCHRAIBER, 1994; ACIOLE, 2000).

De fato o objeto dos serviços de saúde não vem a ser a cura,ou a promoção e proteção da saúde,mas a produção do cuidado,que segundo Merhy,apartir deste cuidado será atingida a cura e a saúde,que são os objetivos pretendidos.Então mais uma vez nos contrapomos nesse modelo mecanicista/tecnológico que nos propõe uma visão limitada de saúde como ausência de doenças fisiológicas,tratando assim somente o sintoma e não hipotetizando as causas potencializadoras desse sintoma.

Desse modo é que Merhy nos expõe a uma nova visão de ato cuidador.O modelo multidisciplinar com ênfase nas diferentes áreas (medicina,psicologia,fisioterapia,nutrição,terapia ocupacional,odontologia,entre outras) trabalhando juntas,para ver o ser humano de uma forma holistica,retratando assim as suas necessidades que não são somente de ordem fisiólógica,mas mental e social também.

"Nós enquanto usuários podemos ser operados,examinados,etc,,sem que com isso tenhamos necessidades/direitos satisfeitos".

Devemos internalizar esse modo de produção de saúde,não somente centrado no singular,mas na pluralidade do ser humano,como portador de diferentes necessidades,dividindo saberes,colaborando para o "bem estar fisico,social e mental",assim definido pela OMS.

Em outra critica,Merhy expõe a confusão de tecnologia que é feita nos serviços de saúde,em que quando se fala da mesma, não é dos máquinas que estamos falando,como as usadas para fazer um raio-x,mas dos saberes que usamos para atender a esses pacientes,saberes esses cada vez mais estruturados e qualificados.E é apartir daí que o autor expõe esse modelo de atendimento de tecnologia levedura:

"É leve ao ser um saber que as pessoas adiquiriram e está inscrita na sua forma de pensar os casos de saúde  e na maneira de organizar sua atuação sobre eles ,mas é dura na medida em que é um saber fazer bem estruturado,bem organizado,bem protocolado,normalizável e normalizado".

E claro além dessas tecnologias,há também uma  chamada de leve,que seria como: " um encontro de duas pessoas que atuam uma sobre a outra ,no qual opera um jogo de expectativas e produções,criando-se intersubjetivamente alguns momentos interessantes como os seguintes:momentos de falas,escutas e interpretações,no qual há produção de uma acolhida ou não das intenções que estas pessoas colocam neste encontro,momentos de cumplicidade nos quais há produção de uma responsabilização em torno do problema que vai ser enfrentado,nos quais se produzem relações de vínculo e aceitação".

E é sob essa reflexão que buscamos um novo profissional,formado,que mais do que apenas voltado para a obtenção de um grau de transcendência, possa ser um profissional comprometido com outros valores, como a defesa da vida individual e coletiva, e que, mais do que especialista em certos procedimentos tecnológicos, seja também um cuidador, capaz de buscar não somente a melhor resolução técnica possível para os problemas de saúde, como, também, implicado com a inclusão de seus usuários ou pacientes nas ações de cidadania.

Bom gente,esse artigo ainda tem muita coisa a ser explorada e discutida,deixo pra vocês a minha reflexão!Abraço a todos!

 

Referências Bibliográficas:

MERHY, Emerson Elias. Ato de cuidar: alma dos serviços de
saúde. In: MERHY, Emerson Elias. Saúde: a cartografia do
trabalho vivo. Apêndice 1. São Paulo: Hucitec, p. 115-133, 2002.
 

MERHY,Emerson Elias,ACIOLI,Giovane Gurgel.Uma nova escola médica é possível? Aprendendo com a CINAEM as possibilidades de construção de novos paradigmas para a formação em medicina.Pro-Posições, v. 14, n. 1(40) jan/abr 2003