Primeira impressão

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Olá esse é o meu primeiro post e quero muito descrever aqui sobre algumas situações que me deixam triste e ao mesmo tempo revoltado.

Entrei por meio de concurso público em 01 de Junho de 2011 e fui lotado em uma UBS. Antes mesmo de ir para esta unidade de saúde já tinha ouvido falar horrores como: uma população mal-educada, ignorante e revoltada pela falta de alguns serviços básicos.

Fiquei responsável para realizar as marcações de consultas e exames pelos SUS, lembrando que havia 4 meses que esse serviço básico tinha deixado de ser oferecido nesta unidade de saúde. Aos poucos, fui promovendo mudanças no posto indo além de minha atribuição inicial, ou seja, fazer as marcações pelo SUS. Logo no inicio realmente havia constatado alguns dos problemas do qual me relataram, mas percebi que ao passo que eu promovia as mudanças, automaticamente, a população também mudava suas atitudes. Mas, o que me deixa revoltado é saber que eu poderia fazer muito mais, porém não posso fazer por falta de liberação de recurso por parte da prefeitura e da secretaria de saúde do município que trabalho. Vou citar somente alguns exemplos.

Como disse, entrei no mês de Junho e assim que cheguei me deparei com uma placa de reforma datada do mesmo mês. Acredito que de novo só tenha ficado na placa mesmo, porque o posto estava ao relento, até hoje eu tenho que comprar com meu dinheiro tomada, trinca, trancas, torneiras e eu mesmo conserto. Ganho pouco e por isso essas coisas pequenas eu me disponho a fazer, mas em outros casos não tem como eu tirar do meu bolso, não que eu não quissesse, mas porque não tenho dinheiro para realizar mais essas mudanças que ajudariam bastante a população dessa região que além de ser pobre, é carente. Por exemplo, há na unidade de saúde uma médica oftalmologista, porém não há sala equipada com toda aparelhagem para ela realizar os exames, sendo assim, todo mundo que procura essa especialidade no posto recebe encaminhamento dessa médica para tentar marcar pelo sistema do SUS na internet. E sabemos que não há vagas para todo mundo e quando sai, é para ser feito em alguns meses.

Outro exemplo, a unidade básica de saúde onde estou lotado é enorme e poderia acoplar um laboratório de patologias clínicas para realização de vários exames, mas como não há investimento é realizado somente exame de fezes e do escarro, todos os outros tem que ser marcado pelo sistema do SUS, ou seja, disperdício de tempo e dinheiro, sendo que estes exames, apesar de serem mais comum, também não contemplam a todos.

Nos dois últimos meses as coisas tem se agravado e estamos tentando administrar a unidade de saúde com mãos de ferro e muita paciência. A população está se revoltando novamente e não é pra menos, pois atendemos por área, ou seja, cada clínico geral atende somente pacientes de sua área. E neses dois últimos meses já abandonaram a unidade 3 clínicos gerais ficando os pacientes dessas áreas sem médico. Só restou uma médica que está com muita sobrecarga e também ameaça a sair. O psiquiatra também pediu exoneração ficando sem atender os paciente que precisam de receituário de remédios controlados. E acreditem, até agora não mandaram nenhum novo médico.

E para finalizar os exemplos, vou citar o cúmulo do absurdo, da falta de dignidade, da falta de respeito com a população. Existe uma impressora para imprimir a marcação das consultas e exames do SUS. Há 3 meses que o cartucho dessa impressora quebrou, que venho solicitando a secretaria de saúde um novo cartucho que, acredito que custa menos de 100 reais, e até deixei de marcar exames pelo SUS por falta desse cartucho e sempre que pergunto a resposta é a mesma, precisamos realizar licitação para isto e por esse motivo não temos previsão.

Infelizmente, essa é a realidade, por várias vezes cheguei a desaminar e pensei até em abandonar a saúde desse município, mas acredito que dias melhores virão e sei que não posso mudar o mundo, mas sei que estou fazendo a minha parte. É uma pena que até um adicional de insalubridade, previsto no próprio estatuto do servidor, e até um cartucho de impressora são elementos inegavéis por parte dos governantes.

P.S. não sou o gestor, somente um agente administrativo que ganha salário mínimo seco, sem gratificação ou quaisquer outros tipos de auxílio.