É melhor prevenir do que dialisar! – Rastreio de Nefropatia Diabética em pacientes de uma UBS de Macaíba/RN

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 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O Diabetes Mellitus (DM) acomete 12.054.827 brasileiros, representando uma prevalência de 6,32%. Ao analisar este agravo no município de Macaíba, localizado na Grande Natal no estado do Rio Grande do Norte, detectamos 971 indivíduos diagnosticados com esta doença; destes, 7,72% encontravam-se adscritos na área de abrangência da Estratégia Saúde da Família da UBS Eloy de Souza, unidade em que os realizadores da ação (doutorandos Cristal Han, Yana Clara e Pedro Victor) frequentaram durante o estágio de Internato em Saúde Coletiva do curso de Medicina da UFRN, sob a preceptoria da Enfermeira Maria da Paz e Dr. Honório Medeiros e tutoria da professora Vilani Medeiros.
Em virtude da alta prevalência de DM nesta região, optamos por desenvolver um projeto de intervenção vislumbrando o rastreio de Nefropatia Diabética (ND), complicação crônica microvascular frequente no DM, acometendo, após 15 anos de doença, 20 a 30% dos portadores de DM-1, sendo a segunda causa de diálise no mundo, ao ser responsável por 30,3% dos pacientes em terapia dialítica, e a principal causa de insuficiência renal terminal, representando 40% nos EUA. A mortalidade dos pacientes que evoluem para estágios avançados de Nefropatia Diabética chega a 75% quando em tratamento dialítico, portanto, a detecção de fases precoces da ND é de fundamental importância para a preservação da qualidade de vida desses pacientes.
A recomendação atual para detecção da ND é a medida anual da microalbuminúria, realizada em amostras de urina casual, a fim de detectar os estágios iniciais da ND, a fase de microalbuminúria (30-300 mg de albumina/g de creatinina) ou fase II da ND, a qual deve ser confirmada em duas de três coletas, ao longo de três a seis meses. A importância de uma detecção precoce basea-se no fato de a fase II da ND ser reversível, enquanto que na fase III (proteinúria) a reversibilidade completa não é mais possível, e o dano renal apenas estacionável.

OBJETIVOS
– Identificar pacientes diabéticos através do levantamento das fichas A preenchidas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs);
– Dosar a relação albumina/creatinina urinárias em desses pacientes;
– Rastrear microalbuminúria a fim de instituir a terapia apropriada a fim de remitir ou impedir a evolução dos casos de ND identificados.

METODOLOGIA
Dos 75 pacientes diabéticos identificados, foram conseguidas 57 amostras de urina, totalizando um percentual de 76% de abrangência pela intervenção comunitária sobre o público alvo. Durante o recebimento das amostras, os pacientes foram entrevistados a cerca de fatores de risco para ND (idade, sexo, etnia, tabagismo, presença de dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, retinopatia diabética, histórico de nefropatia diabética na família, tempo de doença diabética e uso de medicamentos que reduzem proteinúria – inibidores da enzima ECA, os IECAs, ou bloqueadores do receptor da angiotensina, os BRAs).
As amostras foram analisadas no laboratório de análises clínicas do Centro de Saúde Luis Antônio Fonseca Santos de Macaíba (dosagem da creatinina urinária) e no laboratório de análises clínicas do Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN (dosagem da microalbuminúria). O cálculo da relação albumina/creatinina urinárias, bem como a análise estatística dos fatores de risco e dos demais resultados foram feitos pelos próprios pesquisadores.

RESULTADOS
Das 57 amostras estudadas, 24 (42,1%) revelaram microalbuminúria (30-300 mg albumina/ g de creatinina) e 4 (7%) revelaram proteinúria (> 300 mg albumina/ g de creatinina).
Dos 24 pacientes com microalbuminúria, 18 (75%) eram mulheres, 7 (29,1%) tabagistas, 18 (75%) hipertensos, 12 (50%) dislipidêmicos. 6 (25%) relataram antecedentes familiares de nefropatia diabética. 2 (8,3%) relataram retinopatia diabética. Quanto a etnia, 16,6% eram brancos, 2 (8,3%) pardos e 18 (75%) mestiços. A média idade desse grupo de pacientes foi 67,7 anos. A média de tempo de diabetes foi 10,7 anos. 8 pacientes (33,3%) com microalbuminuria já fazia uso de drogas do tipo IECAs ou BRAs, enquanto que 12 (50%) não fazia uso desses medicamentos. 4 (16,6%) ignoravam os medicamentos de que faziam uso.
A média do valor de microalbuminúria nos 28 pacientes com microalbuminúria ou proteinúria pacientes foi de 80 mg de ambumina/ g de creatinina.

CONCLUSÕES
Detectamos uma alta prevalência de ND na nossa amostra (42,1%), o que corrobora a importância desse tipo de intervenção comunitária para prevenção de agravos. Dados da literatura são consistentes em apontar o método de pesquisa de microalbuminúria na urina como fundamental na prevenção dessa comorbidade, promovendo qualidade de vida a longo prazo e redução significativa de gastos públicos em procedimentos de alto custo como a terapia substitutiva renal. Para os pacientes da nossa intervenção em que observamos microalbuminúria, ainda é necessária uma nova dosagem confirmatória da microalbuminúria fixa em um prazo de 3 a 6 meses. Caso confirmada a microalbuminúria fixa, a terapia apropriada será iniciada para os pacientes que ainda não a utilizem, a fim de quebrar a história natural dessa comorbidade tão letal e debilitante.

REFERÊNCIAS
1. Arora, S. Renal function in diabetic nephropathy, World Journal of Diabetes, 2010
2. Bakris, GL. Overview of diabetic nephropathy. UpToDate, 2012
3. Burton D Rose and Theodore W Post. Measurement of urinary protein excretion. Up to Date, 2011
4. Diabetes and Chronic Kidney Disease Guidelines. National Kidney Foundation Kidney Disease Outcome Quality Initiative