De Volta ao Passado

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De Volta ao Passado

 

 

 

      Esta semana, preparando uma cine-aula para os alunos da residência de psiquiatria, assisti ao filme Heleno e fui à internet buscar mais informações sobre a vida de Heleno de Freitas e a colônia psiquiátrica de Barbacena onde ele viveu por seis anos até morrer aos 39 anos.
       Hoje, ao me deparar com as atrocidades do manicômio de Sorocaba, veiculadas na mídia recentemente, as imagens em minha cabeça começaram a se confundir: Barbacena da década de 50 do século XX se assemelhando ao cenário contemporâneo, denunciado há poucos dias, no interior de São Paulo.

https://flamasorocaba.wordpress.com/2012/08/24/a-casa-dos-esquecidos-programa-conexao-reporter-sobre-o-hospital-psiquiatrico-vera-cruz-de-sorocaba/

       Não por acaso, veio de Minas Gerais, reduto de manicômios no passado, a lei nacional da reforma psiquiátrica, proposta pelo mineiro Paulo Delgado. O que choca e surpreende é que o estado de São Paulo, que foi cenário de marcos da reforma psiquiátrica brasileira, como a criação do primeiro CAPS do Brasil, na capital em 1987 e a intervenção da Casa Anchieta, em 1989, em Santos, admita tamanho retrocesso.
       Ainda guardo a alegria de ter presenciado, no início deste mês, uma ágora que ocupou todo o palco do Auditório Dante Baroni da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, composta por pessoas representativas do movimento da luta anti-manicomial, inclusive Paulo Delgado, para a comemoração dos 20 anos da aprovação da lei da reforma psiquiátrica gaúcha, de autoria de Marcos Rolim, também presente neste evento. E de todas as falas que um auditório lotado assistiu, a mais marcante, ao meu entender, foi a de Heloisa, ex-moradora do Hospital Psiquiátrico São Pedro, o “juqueri” dos gaúchos, fazendo a narrativa de sua vida nos últimos doze anos, desde que readquiriu sua cidadania a partir da alta e através de uma casa própria com “móveis planejados” e de um emprego.


       Hoje, a lembrança da Heloisa se dissipou na imagem daqueles homens nus, comendo fezes e morrendo de frio, num verdadeiro cemitério dos vivos, como dizia Lima Barreto.

       Infelizmente, o mesmo agosto que comemora os 20 anos da legislação gaúcha é o mês em que voltamos a presenciar o velho modelo asilar de maus tratos e total desrespeito aos direitos humanos dos manicômios dos séculos passados.
      Para quem estiver disposto a percorrer esse confuso caminho de avanços e retrocessos, deixo aqui, um registro fotográfico de Heloísa na casa do povo e os links das experiências paulistana:

 

 

 

 

 

 

e mineira:

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/exposicao_fotografica_saude_mental.pd