O que é um intercessor? O que ele provoca?
Este conceito-ferramenta se materializa nesta entrevista de Jacqueline Abrantes sobre a tenda do conto. Jacqueline, o grupo da tenda e a própria tenda são intercessores de produção de vida. Deriva da vida nua para a vida qualificada.
Colocar em cena a história oral, sob a forma de narrativas de vida, é interceptar um outro mundo que fica enclausurado sob os protocolos de saúde. É fazer desvios estratégicos que deixam passar a vida, soltar uma dobra do tempo que nos liberta para outros devires.
É exatamente o que nos falta hoje. Linhas de fuga criativas como essa.
Obrigada pela sensibilidade que nos enche de potência!
Iza Sardenberg
12 Comentários
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Bem lembrado, querida e afiada amiga!
A tenda está se virtualizando em vários outros espaços, mas jamais pode virar um outro protocolo.
mil beijos prás duas queridas do meu coração,
Iza
Oi Iza,
Obrigada pela disponibilidade do vídeo aqui. Os relatos das histórias contadas na tenda do conto trazidas pela Jaque são fortes, emocionantes e revelam a face de um SUS cidadão e acolhedor que todos queremos.
Quando programamos o nosso Fórum Mobiliza Piauí, pensamos na vinda da Tenda do Conto como parte da programação. Infelizmente, a Jacque estava noutras frentes, e não deu pra vir. Mas não desistimos não. Noutra oportunidade, pretendemos trazê-la para a realização da oficina proposta por ela.
E é isto, vamos seguindo!
Bjs!
Emília
Por Carlos Rivorêdo
Jaqueline Abrantes e o Envelhecer contando histórias.
O homem possui uma marca que o torna diverso dos demais elementos da natureza. Marca indelével, onipresente, dilacerante em muitos momentos. Esta marca é a consciência e a certeza da finitude. Dela se defende, se angustia e, por inúmeros momentos, se aproxima e se defronta com a sua impotência.
Os jovens como dizia Cole Porter, “Without means”, tem uma ideia distanciada de que um dia terminarão. Essa ideia da finitude vem se aproximando aos poucos conforme a idade avança.
No vídeo do Café Filosófico que assisti, encaminhado pelo Gustavo, ficou para mim uma questão, que pretendo comentar.
Qual o significado do envelhecer em um mundo repleto de juventude?
A imagem de uma juventude perene persegue a Humanidade há milênios. Nós, contemporâneos, mormente a partir dos anos sessenta, entramos em uma corrente turbulenta da juventude a todo custo.
A entrevista com a Jaqueline Abrantes escancara esse dilema, mesmo sem o explicitar. Apresenta ou revisita uma imagem do velho há muito rechaçada pela mídia, como reflexo da própria Sociedade contemporânea. Opõe-se ao retrato falsificado de um idoso ativo, praticando a negação do corpo decadente.
Comparemos a experiência da Tenda do Conto com as imagens de grupos de idosos fazendo jogging, imprimindo ao corpo que se esvai uma aura de uma vitalidade descabida. Como uma Olimpíada patética de corpos constituídos por peles flácidas, rugas expostas, jatos frágeis e estalos nas juntas a almejar o tempo que se foi. Na Tenda o idoso está para dizer do seu tempo, sem nostalgia. Como a conviver para si e para os outros com aquilo que lhe é próprio: o Tempo, o seu tempo.
Nas sociedades sem escrita, de tradição oral, o tempo era pensado de maneira circular. Na nossa, judaico-cristã, a cultura se vê governada pelo Tempo linear. A maldição do princípio-meio-fim sem volta, sem possibilidade de retorno, sem condições de contar. Simplesmente, para dizer ao outro como era, como foi construído.
Tais coisas são reguladas pela noção de Tempo. Desde Platão, o Tempo se mostra central na preocupação dos homens. Mesmo porque está colada à ideia do ser. Os gregos concebiam o Tempo como “estar”, como a “presença”. Para os hebreus o Tempo era concebido como “futuro”. Para os primeiros, a noção se conforma intemporal. Ao passo que para os hebreus, ela é essencialmente temporal. Isto significa que, para os gregos, a noção de Tempo implica estar vivendo o momento presente (no Timeu, “O tempo é a imagem móvel da eternidade”) – a “presença” – o ser como estar. A cultura hebraica concebe o tempo como um devir inalcançável.
O Tempo experimenta diversas concepções quando submetido à especulação filosófica. Para Aristóteles, associado à ideia de movimento. Para Plotino, o Tempo é, a um só tempo, estrutura e relação. Dando um salto para Heidegger, o tempo está vinculado diretamente à ideia do ser propriamente (O Ser e o Tempo). O Tempo para o Homem se revela diante da consciência da morte e o cuidado (preocupação) com a própria morte e a vida.
Daí, a ideia heideggeriana de preocupação parecer ter, na contemporaneidade, sido assimilada como preocupação com o corpo e demonstração de vitalidade própria da juventude no centro de uma sociedade idealmente jovem.
Tal concepção vem (do que consigo me lembrar) da ficção de Aldous Huxley de uma sociedade de homens que jamais envelhecem (Brave New World). Mas, nesse avatar os homens sequer nascem de mulheres. É essencialmente anti-natural. Aliás, nos devaneios huxlerianos, o vocábulo “mãe” é um palavrão; interdito.
Na sociedade da juventude eterna, os idosos precisam mostrar que venceram o Tempo; que alcançaram, arrogantes, a vitória sobre a morte, numa interpretação rasteira de Platão, que apõe a eternidade ao viver travestido de juventude.
A experiência da Tenda do Conto, pelo que consigo alcançar, propõe outra imagem do homem idoso. Um idoso que assume um papel social mais compatível com os limites do seu corpo e com a proximidade do fim. Platonicamente estando para ser.
belo comentário que nos fala da dimensão da duração, esquecida na ditadura da instantaneidade que nos pega hoje.
lembrei do lindo "Lembranças de velhos", de Ecléia Bosi:
Por Erasmo Ruiz
Não tme mais nada pra dizer e ainda resta tanto pra se falar. Uma das melhores experiências que tive foi estar ali na tenda. Rever Jacqueline (nem que seja em vídeo) e ouvi-la falar sobre a tenda é uma dádiva. Bj e saudade do ERASMO
Por Cláudia Matthes
essa bonita forma de acolher aos usários no SUS, visite:
https://redehumanizasus.net/taxonomy/term/17253
aqui você encontra todos os posts e os movimentos que vem acontecendo, vale dedicar-se um tempo e sentir o sabor desse trabalho.
Com carinho
Peju
Por Shirley Monteiro
Querida Jacque,
Cada vez que encontramos uma reportagem, uma nota ou melhor ainda, um Post sobre a TENDA DO CONTO nossa alegria e certeza no SUS que dá certo pelo protagonismo e inventividade de seus profissionais de saúde, nos renova !
Muito boa a associação da TENDA como vivência intercessora. Potente intercessor porque onde chega, a Tenda revela e preserva as nuances e singularidades de cada pessoa, cada lugar, cada contexto !
bjos, às amigas e amigos companheiros,
Shirley Monteiro
Que bela surpresa!
Um presente insequecível que marca o aniversário de seis anos da Tenda do Conto.
Como traduzir a emoção? Fico aqui experimentando o sabor das palavras de vocês, as ideias, pensamentos, os olhares que tanto acrescentam nossos percursos.
E vejo o quanto deixou de ser dito no vídeo…
Queria que minha voz embargada e tímida tivesse a força, a delicadeza e aquele brilho de todos os narradores que salta aos olhos e incandeia nossas vistas.
Queria ter dito que quando falamos sobre a Tenda para os estagiários, visitantes, professores, convidados, em todos os lugares que percorremos, ressaltamos com orgulho: está na redehumanizasus!!!
Que sem a RHS, essa história possivelmente não seria contada assim, com tantas vozes e nem estaria sendo reinventada todos os dias;
que os posts impressos já amarelados e fixados nas arupembas representam uma RHS cada vez mais viva e presente nesse percurso;
que a RHS se oferece como um ventre aberto para que as vozes dos contadores que sentam na cadeira da Tenda do Conto, ganhem o mundo;
que sinto a presença de muitos companheiros da RHS em cada tenda montada e nas histórias contadas: nessa constante novidade que é a vida!
Nesse tempo de escutar, experimentar o gosto do outro, as palavras me fogem…
Beijos emocionados, obrigada pelo carinho!
Jacque
Jaqueline
Assistir esse vídeo ver sua emoção ao falar da Tenda, me faz querer levar esse projeto mais afinco.
Sinto um pouco de mim em você , em busca dessa saúde humanizada e acolhedora!
Por Ana Rita Trajano
Querida amiga Jacque, sempre aprendo muito com você, inventiva, sensível, tudo!! Muito Obrigada! Beijo grande, Ana Rita
Por Rejane Guedes
As palavras da Iza conseguem traduzir o que pensamos ser 'intraduzível'.
A Tenda do Conto é mais do que um 'dispositivo'. Pensá-la enquanto um Intercessor possibilita a abertura para várias 'leituras' de sua história, de seus efeitos, de suas trajetórias por diversos cenários.
Creio que essa riqueza de pensar a Tenda enquanto intercessor é uma precaução importante, no sentido de não enclausurar a experiência criativa/inventiva em protocolos formatados, que muitas vezes podem ser usados para reeditar a 'mesmidade' da institucionalização das práticas.
A TENDA DO CONTO é mesmo um MODO OUTRO de produção de vida. Uma vida tecida relacionalmente, como 'brechas' num cotidiano tão normalizador do cenário das práticas em saúde.
Muito bom encontrar a entrevista da Jacqueline em post.