A Hipótese Gaia e o Desenvolvimento Sustentável

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Curso de Especialização em Educação para a Diversidade – UFRGS

Disciplina VIII – Atividade 1 B Fórum

A ideia de sustentabilidade é ambígua. Ela carrega conteúdo simbólico que emana, em parte, do movimento ambiental e de algumas formas de pensamento sobre o ambiente e o lugar dos humanos nele. Mas também parece sustentar um conteúdo que secretamente nos desculpa para seguirmos com nosso curso de ação suicida. Nos iludimos com a noção de uma natureza benévola e vítima da crueldade humana. Há mais poder nos bilhões de anos de existência da vida neste planeta e sua fúria é mais potente que as mais vastas ambições e delírios humanos.

A hipótese Gaia, também denominada como hipótese biogeoquímica, formulada por James E. Lovelock nos permite pensar o planeta terra como uma forma viva. Nesta maneira de pensar o ambiente,

  "Os seres humanos sobre a terra se comportam, em alguns sentidos, como um microrganismo patogênico. Nós crescemos em número e as perturbações que provocamos em Gaia também aumentaram, a ponto de nossa presença se tornar perceptivelmente incapacitante, como uma doença. Assim como acontece nas doenças humanas, há quatro resultados possíveis: destruição dos organismos patogênicos invasores; infecção crônica; destruição do hospedeiro; ou simbiose…" (James Lovelock, Gaia – Cura para um planeta doente).

A ideia de Lovelock contraria a maneira humanista de ver o mundo. Para os humanistas, os seres humanos são muito diferentes dos demais animais e tem direitos éticos e morais sobre a natureza. De certa forma, o humanismo é um herdeiro do cristianismo e do monoteísmo judaico cristão, como afirma John N. Gray. Para o pensamento religioso ocidental, um único Deus criou o universo, a terra e a vida. Convenientemente, esse Deus colocou a natureza a disposição dos homens, que por serem os filhos prediletos do criador se separam da natureza. São sujeitos dotados de alma e livre arbítrio, enquanto a natureza é mero objeto.

Diante da crise ambiental que, quase certamente, nós mesmos estamos engendrando, a hipótese gaia inspira uma perspectiva ambiental baseada na sustentabilidade. Em si, esta forma de pensar é mais realista e está de acordo com as evidencias da ortodoxia científica contemporânea. Sem nos adequarmos a sustentabilidade ambiental, poderemos ser os que mais terão a perder no jogo do equilíbrio ambiental.

Mas a sustentabilidade ambiental proposta pelo mundo corporativo industrial é no mínimo hipócrita. A aposta da Petrobrás pode muito bem ser boa para a economia brasileira no curto e médio prazo. Ensejará, certamente, um desenvolvimento econômico que beneficiará, não só o padrão de consumo, como também a oferta de educação de qualidade, por exemplo. Mas a longo prazo, esse desenvolvimento econômico pode acabar custando caro.

O fato é que o mundo corporativo não possui uma capacidade cognitiva. Ele não toma decisões maquiavélicas a despeito dos interesses dos indivíduos. Ao contrário, a indústria segue o consumidor que forma, e é formado pelo mercado de bens desejáveis. É mais razoável acreditar que na soma dos desejos humanos individuais, a sede insaciável por consumo, riqueza e a posse de bens materiais e simbólicos, tornem o investimento na exploração das reservas de petróleo um imperativo político. Uma expressão do desejo das maiorias que nenhuma força política possa desconsiderar.

Mas a racionalização da sustentabilidade ambiental não muda o fato de que as mudanças climáticas globais serão aceleradas pela queima de combustíveis fósseis. E nós (bilhões de seres humanos) pagaremos por isso.

Na incredulidade de aceitar a alternativa real (a verdadeira sustentabilidade depende de sermos menos vorazes) fica exposta nossa dificuldade em perceber a necessidade singela de se dar por satisfeito. Vivemos a urgente necessidade de abraçar valores que superem o desejo irrefreável de consumir, de ostentar e de confundir isso com felicidade. Por isso, deixo o link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=F57Kat5388E