Ataque ao SUS em São Paulo: A morte de todos na morte de um ideal.

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São Paulo agora é modelo. Modelo para a vitrine dos inimigos mortais do SUS. Aqui no sul as coisas são feitas no cotidiano. Cada humilhação, cada ataque, cada iniquidade, por mais local e peculiar, não lhes custa o esforço e sempre vale a pena. Tenho colegas, empregados das malditas cooperativas, que estão trabalhando há 60 ou 90 dias sem salário. É um absurdo tolerado. O silêncio é o grande plebicito que tem legitimado o ataque que estamos sofrendo.

Que benefício, diriam os defensores do modelo privado de saúde, poderíamos estar proporcionando aos usuários, se eles assistem nossa agonia passivamente. Para os privativistas não há legitimidade mais eficiente do que o silêncio dos usuários.

Mas o que poderiam eles dizer sobre nossa dor, se a deles próprios tornou-se surda e sem sentido. Como lamentariam e protestariam sobre o ataque que o patrimônio deles vem sofrendo? Estes que não tem acesso a fama e a celebridade a não ser pelo grotesco espetáculo de expor sua próprias chagas, não podem dirigir um olhar de cuidado a algo tão delicado e complexo como o SUS.

A coisa toda é sórdida. Mas tem um componente mais insidioso ainda. É o carater de guerra que tem dominado a arena de enfrentamentos. Na guerra a questão não é a exclusão, mas sim a eliminação do outro. Vale tudo. Desde a tática de guerrílha de infundir, sempre e cada vez mais, uma presença do opositor em tudo e em todos, portanto, em ninguém. Disfarçar esse ataque de luta político-eleitoral é uma covardia. É mais um ataque ao padrão de civilização que desejamos, aquela que conseguimos instutuir e a outra, com a qual ainda sonhamos.

Tenho descrito em meus posts, algumas das visceras da luta cotidiana que se entabula contra a vida. Parece uma luta por lucro e dinheiro. Mas é muito mais do que isso. Por traz dessa disputa econômica, em que o SUS é um símbolo de que o mercado é submisso a vida e não o contrário, o que eu vejo é uma luta suicída. Um desejo de abreviar a agonia humana: O aquecimento global é real, temos terroristas a solta, mil coisas ameaçam os humanos. Não percamos tempo, aceleremos tudo, não temos nada a perder, já perdemos tudo. Os niilistas querem extinção da vida humana o mais rápido possível.

O projeto do Serra que parece um projeto do poder pelo poder, está permeado e dominado por atores que querem acelerar a pulsão de morte que, nestes dias tem facinado e paralizado a humanidade.

Estamos vivendo uma hora muito crítica. Lutar pelos valores de afirmação da vida é lutar pela futuro. Evitar o que pode ser um devir de morte, um não-vir. Eu não me iludo. Muitos preferem morrer e levar com eles o resto, em lugar de acolherem a possibilidade de serem outros.

Estamos combatendo uma luta de vida e morte em que parecem ser impossíveis tréguas sinceras, porque o único acordo possível, pressupõe nosso desaparecimento.

Como Saramago diz, pela boca de sua personagem, em "Intermitências da Morte": existem muitas mortes. Penso que a morte pessoal é a menos intensa das mortes. A morte que facina e hipnotiza o olhar das massas hoje é a coletiva. A morte da humanidade.

É neste contrafluxo que somos colhidos. O HumanizaSUS é um humaniza mundo. Nossos inimigos cerram os dentes diante nós, e por todos os flancos declaram sua guerra de morte, não de uns e de outros, mas de todos nós e deles mesmos.

É por isso que olhando a nossa volta parece que a humanidade deseja morrer. Temos que aceitar essa possibilidade terrível. É uma hipótese que já "anda" entre nós. Portanto de nada adianta negá-la. Falseá-la não é encontrar sua natureza oculta. Falsear a hipotese de desejo de morte coletiva é desconstruí-la. É fazê-la falsa no enfrentamento. Isso é lutar para evitá-la.

Mas agora é uma hora de consciência bastante agourenta, porém necessária.