Os Subsídios do Judiciário: um recenseamento das tendências momentâneas.

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O post sobre as peripécias de nossos juízes é emblemático. Esses movimentos das categorias mais "esclarecidas", acendem um sinal de alerta. Há uma incerteza no ar que vem se manifestando como avareza e (nossa tradicional) alergia a igualdade.

A perspectiva de uma crise econômica rebocada por um suposto desequilíbrio nas contas públicas paira no ar. Essa atmosfera agourenta leva todos os setores médios e das elites brasileiras a acusarem os pobres e as políticas de renda mínima, junto com os gastos com servidores públicos, de serem os vilões da economia.

Profissionais liberais e grandes empresários se queixam da carga de impostos, como se não fossem beneficiários da isenção e dos subsídios fiscais. No fundo essa polêmica denuncia a farsa da iniciativa privada brasileira. Pode ser que a própria ideia de iniciativa privada, em um mundo de potências coletivas, num fluxo (inter)determinante, seja um mito. Mas certamente no Brasil ela simplesmente não existe. Sempre que alguém toma uma iniciativa na macroeconomia, é as custas de financiamento estatal. Com exceção de pequenos empreendedores em busca de recursos para subsistir, sem Estado, o capitalismo brasileiro naufraga.

Nosso crescimento econômico, baseado em incrementos no padrão de consumo estimulado por uma política de renda mínima, pode estar fazendo água. Se for verdade, os ratos já perceberam e estão abandonando o navio. A manobra do judiciário de abandonar o barco das carreiras subsidiadas é significativa por desnudar uma manobra de indexação dos salários frente a ameaça de inflação dos preços e desvalorização do Real.

Por outro lado, há a possibilidade, apavorante para nossas elites, de Dilma se reeleger e a economia voltar a se estabilizar no padrão médio da última década. Isso, associado a manutenção de um programa de renda mínima, acrescido da sonhada distribuição de renda e proteção social, levaria a atual hegemonia política a durar por, pelo menos, mais uma década. Existe no ar um pânico generalizado e mesquinho de que essa realidade venha a se confirmar.

Pessoalmente, não acredito que uma ou outra alternativa se concretize isoladamente. O que é mais provável que aconteça nos próximos anos é uma lenta e gradual agudização do fosso da desigualdade em nosso país.

No entanto, será diferente. Há indícios de um profundo ressentimento no ar. Alimentada por moralismo e dogmas religiosos, liberais e conservadores, a elite não suporta a aproximação das classes pobres. Mas, o avanço na renda e no padrão de consumo é só uma face superficial de um movimento bem mais profundo.

Os pobres estão dentro da casa dos ricos, na mesa de cirurgia dos médicos, nos banco dos réus dos juízes, nos auditórios dos programas da Globo, na moto que entrega a pedra de crack e a cocaína na portaria dos condomínios fechados. Os pobres ninam e trocam as fraldas dos filhos dos ricos… Ocuparam todas as redes sociais e celebram as celebridades, enquanto reclamam dos ônibus superlotados.

Nossos pobres não atravessam a fronteira atrás de um sonho americano. Nascem nas maternidades do SUS, moram nas favelas, a poucas centenas de metros da praia, dos shoppings, das portarias… Falam a mesma língua que as elites, dançam as mesmas músicas, muitas são eles que escrevem, cantam e dançam.

Com o domínio do comércio de varejo das drogas, os pobres colocam as elites para dormir e as despertam com coices de anfetaminas, cocaína e outras drogas sintéticas.

Mais do que isso. Os pobres passam pela escola e encontram professores como eu. Alguém acha que, dessa vez, que todas as vezes, eles vão pagar sozinhos a conta da crise econômica? Eu não contaria com isso.

Na profunda crise em que a humanidade, e junto com ela a sociedade brasileira, está metida, podemos vislumbrar um lado positivo: A igualdade social pode ser tão desejada, como temida, mas as catástrofes igualam ricos e pobres naquilo que é um atributo mais genuinamente humano – o sofrimento.