Que privatizem as Secretarias da Saúde
Continuando a dar eco nesta Rede ao crescente debate público em torno das Organizações Sociais como alternativas de gestão do SUS, divulgo mais um artigo de opinião publicado na Folha de São Paulo, nesta semana. Certamente, uma "resposta" do presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo ao artigo publicado dias antes pelo Prof. Raul Cutait neste mesmo jornal e que comentei em outro post (Quando o bem público vai virando um negócio).
Que privatizem as secretarias da Saúde
CID CARVALHAES
A terceirização da saúde por meio das organizações sociais de saúde é uma proposta antidemocrática e antissocial
A TERCEIRIZAÇÃO da saúde por meio das OSS (organizações sociais de saúde) é uma proposta antidemocrática e antissocial. Desde que foi implementada, tem demonstrado dificuldades em apresentar o controle do destino de verbas do dinheiro público para o privado.
Na realidade, tem acumulado dívidas orçamentárias grandiosas. Veja como exemplo o caso da Fundação Zerbini, com dívida de R$ 260 milhões, sem falar de Sanatorinhos (Carapicuíba e Itu), Hospital Francisco Morato, maternidade de Cotia, entre outros.
Os governos estadual e municipal alegam que o custo de internação nos hospitais administrados pelas OSS é baixo. Mas o problema é que nesses hospitais não são atendidos pacientes com doenças de alta complexidade.
Não há unidades de hemodiálise para tratamento de doentes renais crônicos, por exemplo. Quem precisa de internações prolongadas encontra as portas fechadas, e os atendimentos e internações são seletivos. Os politraumatizados também não são atendidos. Além disso, os hospitais não fazem transplante de órgãos nem oferecem medicação de alto custo.
Os pacientes com problemas complexos são enviados para outros hospitais ou prontos-socorros da rede pública sem a certeza da agilidade no atendimento.
A alegação de que as OSS não têm fins lucrativos é usada como desculpa para o pagamento de "polpudos" salários a seus diretores. Os cargos em comissão são preenchidos de acordo com os interesses circunstanciais dos gestores privados, levantando a hipótese de benefícios imediatistas de quem os promove.
Quem perde é a população, principalmente a mais carente. Em São Paulo, o assunto não chegou sequer a ser discutido no Conselho Municipal de Saúde. O Ministério Público já denunciou que é uma maneira de burlar, de uma só vez, o controle público, a lei de licitações, os limites para gastos com pessoal e a responsabilidade fiscal, ultrajando o SUS.
As OSS podem contratar serviços e funcionários e usar bens municipais sem recorrer a licitações ou concursos públicos, bastando apenas a assinatura de convênios. Tais métodos são contrários aos princípios consagrados da administração pública.
Fica claro que o convênio transfere para a iniciativa privada importante segmento do patrimônio público, sem nenhum controle do Tribunal de Contas. Funcionários capacitados e experientes, que dedicaram suas vidas ao serviço público, podem ser trocados como se trocam computadores.
A defesa intransigente das OSS pelo governo do Estado de São Paulo representa uma desculpa burocrática, uma confissão de completa inoperância do governo para justificar sua ineficiência gerencial. Querem um governo mínimo com alta carga tributária e transferência de recursos para atender a interesses mercantilistas da iniciativa privada. Isso é uma fuga da responsabilidade.
Houve inversão na maneira de interpretar a legislação, que diz que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado. A Constituição diz que a iniciativa privada pode atuar como complementar aos serviços de saúde. Na prática, os defensores das OSS deixam o Estado como atividade complementar, invertendo a lógica da lei e prejudicando a população que depende da saúde estatal.
A lei das OSS se assemelha a outra experiência rechaçada pela população de São Paulo, ou seja, o PAS, do ex-prefeito Paulo Maluf. Trata-se, na verdade, de um PAS de casaca.
Portanto, desafio a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e o governo do Estado a abrir as contas dos hospitais e unidades de saúde administradas por OSS para que a verdade seja levada ao conhecimento da opinião pública. Que venha a privatização. Mas por que eles não privatizam antes a própria Secretaria da Saúde e, também, as chefias dos Executivos?
CID CARVALHAES médico e advogado, é presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo.
Por Marco Pires
Tenho observado que o debate é multifacetado e há interesses coorporativos e até patrimonialistas que são contrariados na política do governo Serra.
Isto não os absolve. Porém resta o cálculo estratégico de como potencializar as críticas no sentido da formação de um consenso mais potente na sociedade em torno dos princípios do SUS e de sua plena inplantação.
Estou trabalhando em um artigo que problematiza a posição dos empreendedores da saúde em relação a concentração de recursos em determinados polos regionais, a privatização e o controle social.
Vou propor a ampliação da aposta da PNH para além das esferas da gestão e da atenção. Com a falência do projeto de democracia baseado na chamada sociedade civil gramsciana, que em tese seria a base de sustentação do SUS e da eficácia do controle social, restam-nos os hibridos e o mundo real das redes onde naturesa e cultura são uma só coisa.
A PNH é hoje, a expressão mais potente dessa capacidade de criar hibridos que ponham em diálogo as tradicionais partiçoes da ciência social e política: Poder e tecnologia, humanos e não-humanos, naturesa e cultura etc.
Se desejar te envio o texto em elaboração para que faça sua crítica.
[email protected]
Um abraço!