Realizado o primeiro parto domiciliar assistido no Piauí

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O Estado dá mais um avanço na disseminação da cultura do parto natural e humanizado, rompendo com a tradição do modelo de parto cesariano, que o coloca no cenário dos ranks de maior índice de realização de cesarianas do país.

Compartilho importante matéria sobre o assunto.

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Realizado em Teresina o primeiro parto domiciliar assistido do Piaui

“Foi um momento transformador, nunca mais vou ser a mesma”. É com essas palavras que Taisa Magalhães define o nascimento do seu primeiro filho, Téo. Ela foi a primeira mulher no Piauí a optar pelo parto domiciliar planejado com assistência, quando todo o procedimento é realizado em um ambiente doméstico, com a presença de familiares.

Após o acompanhamento gestacional e a garantia médica de que a gravidez era de baixo risco, Taisa e o esposo Diego decidiram que o nascimento do filho não seria em um ambiente hospitalar. A ideia surgiu após o casal assistir a um documentário sobre o sistema obstétrico no Brasil, que apresentava casos de partos domiciliares.

“Ficamos encantados com os relatos de mulheres que realizaram o parto domiciliar. Decidimos que o ambiente do hospital poderia interferir de alguma forma, psicologicamente ou fisiologicamente, no momento do parto. Ocorreu tudo dentro de uma gestação de baixo risco, e foi um momento maravilhoso”, lembra.

O nascimento de Téo aconteceu no último dia 15 de agosto. Todo o trabalho de parto durou cerca de 14 horas, e foi acompanhado de perto pelo esposo, e pelo pai de Taisa. A equipe de apoio contava com duas enfermeiras obstetras, e uma Doula, que deram todo o suporte necessário para que tudo fosse dentro do planejado. 

Segundo Taísa, o apoio emocional dos familiares foi fundamental para o sucesso do parto. “Em nenhum momento pensei em desistir, e voltar atrás dessa decisão. Meu esposo participou ativamente do parto, em todo momento me motivando. O apoio emocional que tive ajudou bastante, para que eu ficasse tranquila, e que tudo acontecesse dentro do planejado”, explica.

A recuperação após o nascimento de Téo também surpreendeu a mamãe Taisa. Ela conta que, apesar do trabalho de parto ter durado 14 horas, nem percebeu o tempo passar. “Durante esse tempo dormi, dancei, fiquei na água. A minha recuperação foi maravilhosa, no dia seguinte já estava andando normalmente. Além disso, a amamentação também é facilitada. O Téo mamou na primeira hora de vida, o que em um parto cesáreo não seria possível”, lembra a jovem mãe.

Mesmo sendo em casa, são utilizados todos os equipamentos necessários

A enfermeira Bruna Sepúlveda foi uma das profissionais que acompanhou o parto de Taisa. Ela conta que o nascimento de Téo aconteceu dentro do esperado, e que não houve complicações. “Estávamos ali apenas para dar suporte, naquele momento ela tinha total poder sobre o corpo dela”, relata.

A enfermeira explica que apesar de ser realizado em casa, esse tipo de parto conta com recursos e equipamentos necessários para garantir o bem estar da gestante e da criança. “Os riscos são aqueles habituais, de qualquer parto de baixo risco. Não são feitas medicações e tudo acontece da maneira mais natural possível. Levamos equipamentos, e recursos, apenas para o caso de alguma intercorrência”, explica.

Antes de optar pelo parto domiciliar, Taisa Magalhães passou por um acompanhamento médico, para garantir que a gravidez era de baixo risco. Ela faz o pré-natal com médico obstetra, como toda gestante. Nesse tipo de parto, o casal é informado de todos os riscos, e assina um termo. É uma vontade da mulher, que deve ser respeitada. O que fazemos é apenas oferecer o suporte”, explica.

O nascimento de Téo, primeiro parto domiciliar planejado com assistência realizado no Piauí, pode representar um aumento no número de partos naturais no Estado, na avaliação da enfermeira Bruna Sepúlveda. Ela acredita que por falta de informações adequadas às gestantes, os índices de partos cesáreos ainda são elevados no Brasil, e acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Vivemos em uma sociedade onde tudo é voltado para atenção médica, e vamos indo contra a forma natural de nascer. É preciso entender que a mulher tem todo o poder sobre o próprio corpo, e a vontade dela deve ser respeitada”, avalia Bruna.

Mais da metade dos nascimentos no País são no estilo cesáreo

Para a apoiadora da Rede Cegonha no Piauí, Soraia Albuquerque, questões relacionadas ao parto devem ser amplamente discutidas na sociedade. Ela lembra que dados da Pesquisa Nacional da Saúde, divulgados na última semana, apontam que mais da metade dos nascimentos no Brasil acontecem através de partos cesáreos.

"O que está por traz dessa escolha é a falta de informação, principalmente em relação à dor. Na nossa sociedade, as mulheres acreditam que o parto normal representa um sofrimento. Por outro lado, os estabelecimentos médicos encaram o parto como a produção de uma indústria, e por ser mais prático, as mulheres acabam convencidas a realizar o parto cesáreo”, explica. Soraia Albuquerque ressalta que a mulher deve ter total autonomia para escolher a forma que quer realizar o parto, mas que isso deve ser feito de maneira responsável, observando todos os pontos favoráveis e contrários à escolha do local.

“O melhor local para mulher parir quem vai dizer é a própria mulher. Se a gestação não representa nenhum um tipo de risco, e ela acha que o melhor local a própria casa, essa vontade deve ser respeitada. Porém, isso deve ser feito de uma forma muito responsável, com auxílio de profissionais capacitados”, reforça.

Por: Natanael Souza- Jornal O Dia