Reflexões coletivas da comunicação na saúde: democracia é saúde!

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O Coletivo de Comunicação da Associação Paulista de Saúde Pública (APSP) formado por estudantes, trabalhadores e ativistas da área da saúde, preocupados com a sustentabilidade da democracia brasileira neste momento de crise política, vem estabelecer alguns pontos para reflexão.

A história recente e o momento presente delineiam o futuro possível do SUS. Evocamos como referência inicial o discurso do professor Sérgio Arouca na abertura da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em março de 1986, época marcada pelo fim dos 21 anos da ditadura militar no Brasil: SAÚDE É DEMOCRACIA!

 

 

 

 

Professor Arouca fala de vencer o medo e da abertura democrática na América Latina e no mundo naquele período, acolhendo a diversidade e a necessidade de mudança de quebrar o ciclo vicioso da miséria e da doença com a participação de todos os segmentos da sociedade, ampliando o conceito de saúde. Democracia e saúde foi o lema daquela época, entendendo que a crítica ao período autoritário deveria ultrapassar o simples diagnóstico, mas pensar como reformular o sistema de saúde do país, com a participação popular, numa Conferência Nacional, partindo do desejo e da cultura do povo brasileiro, aproveitando as experiências vividas até aquele momento.

Decorridos 30 anos do discurso de Arouca, apesar de termos a plena liberdade de expressão, e por meio das novas tecnologias de comunicação e informação, parece que não conseguimos aprender a ouvir e a falar com todas as pessoas para a construção de um grande projeto nacional, como o professor dizia em 1986.

A democracia pressupõe que todos e todas tenham voz e espaço para manifestar suas ideias, para participar ativamente da construção, mobilização e implantação de políticas públicas de saúde na diversidade coletiva, independente de cor, gênero, orientação sexual e origem social. Essa diversidade é o fundamento da constituição do SUS como sistema integral, universal e igualitário – que não torna homogêneas as diferenças, mas as acolhe, incluindo nas políticas públicas as demandas diferenciadas de saúde.

Os desdobramentos sociais da crise política que nos atravessa hoje – incluindo as consequências da intolerância ideológica no acesso à saúde – merecem ser discutidos amplamente com todas as pessoas sem nenhum tipo de viés partidário. Mas, com compromisso e responsabilidade social com as questões de saúde, sociedade e vida.

A narrativa não se dissocia do modo de narrar. As mídias tradicionais flertam com a quebra do Estado de Direito, estimulando nas redes sociais o confronto ideológico. Nestes novos tempos, observamos atentamente setores da comunicação a se reinventar como propaganda e estratégia de manipulação (eficazes pelo lugar privilegiado como formadores de opinião), em detrimento do ethos, da conscientização, da educação e da troca democrática de experiências.

Se em 1986 a luta pela democracia enquanto sistema político resultou na instituição do SUS na Constituição de 1988, em 2016 esperamos que nossa luta pela democratização dos meios de comunicação resulte em ampliação das conquistas na área de saúde, sem espaço para retrocessos ou flexibilização de direitos, a partir da força da participação social e da diversidade que nos constitui enquanto povo brasileiro.

Essa é a ordem do dia para nós do Coletivo de Comunicação da APSP, que através dessa reflexão compartilha sua posição e preocupação com os (des)caminhos que os embates partidários tem produzido em nosso cotidiano de existência, no sentido de uma perda significativa da habilidade de aceitar a diferença de pensamento.

Lembrando que o SUS nasceu de um esforço suprapartidário, enfocando as necessidades de saúde como produção social, cultural, econômica e subjetiva, não pretendemos encerrar esse ensaio, mas convidar para que façamos uma reflexão coletiva, abrindo uma conversa sobre o que é preciso conservar, começando por nossa humanidade e tudo que compete ao (bem) comum. Vamos lá?

A comunicação que interessa é a que democratiza as relações.

Democracia é saúde!