Comitê de Prevenção e Combate ao Racismo Institucional da FESF inicia censo diagnóstico no HMIJS
A partir desta segunda-feira (21), trabalhadores do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, participarão de um censo diagnóstico produzido pelo Comitê de Prevenção e Combate ao Racismo Institucional da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS), entidade gestora da unidade de saúde. Com este censo, será possível estabelecer qual a cara da fundação nos ambientes em que atua e o recorte dos seus trabalhadores, como, por exemplo, sua autodeclaração racial e orientação sexual. As informações, de acordo com o comitê, serão mantidas em total sigilo.
Paralelamente a este censo, o mesmo comitê lança na unidade, no mesmo dia, o concurso “Diásporas Negras”, que visa identificar, através da escolha entre os próprios colaboradores, pessoas que representem ações agregadoras dentro e fora da unidade hospitalar. “Ativismo e militância não têm a ver só com grupos. Têm a ver, também, com a ideia do que você defende dessa agenda política diariamente e que você aja de forma multiplicadora”, justifica Saulo de Tarso, coordenador do comitê, que também é responsável pela organização do concurso.
Encontros e debate
Ontem, domingo (20), foi lembrado, em todo o Brasil, o Dia da Consciência Negra. Na sexta (18), membros do Comitê de Prevenção e Combate ao Racismo Institucional se reuniram com diretores do HMIJS, trabalhadores da FESF em Ilhéus e gestantes e puérperas atendidas na unidade. A proposta do comitê é participar ativamente de todos os serviços da FESF SUS, fazendo um giro, mostrando quem é o comitê, como é que ele foi construído. A ideia da construção do comitê surgiu ano passado, partiu dos próprios trabalhadores e foi abraçada pela fundação.
“A proposta é trazer esta imersão, esta sensibilização, para falar sobre alguns conceitos que as pessoas ainda têm dúvida ou desconhecimento mesmo”, revela o coordenador do comitê. Saulo de Tarso é graduando em Psicologia e atua no setor administrativo da FESF. “Nestes encontros debatemos o conceito de raça, de onde surge e por que o racismo, a diferença entre discriminação racial, preconceito, o que é racismo estrutural, recreativo, intolerância religiosa. São coisas que estão em nossas vidas de maneira diuturna”, lembra. Para Saulo, as pessoas da área de saúde, ou que trabalham em estabelecimento de saúde, precisam ter essas informações de bate-pronto.
Efeitos interno e externo
Segundo o comitê, além deste diálogo interno, a conversa termina tendo um efeito bastante positivo e benéfico para o público externo, também. Sendo uma maternidade 100 por cento SUS, o Hospital Materno-Infantil recebe pessoas que estão fora do eixo hegemônico. E os trabalhadores precisam saber lidar com as adversidades destas pessoas. “A gente tem tido ultimamente um levante das diferenças do que é o ideal e o imaginário de todo mundo sobre o que é uma sociedade. Parece ser algo distópico discutir esse tema em pleno século 21 e na Bahia. Mas não é. Isso é um debate que envolve questões estruturais da sociedade”, revela o coordenador do comitê.
Também integrante, o psicólogo Igor Mesquita, que atua no Serviço de Verificação de Óbito (SVO) da fundação, lembra que há muitas formas de o racismo se fazer presente. “Por isso a gente mantém espaços como esses, de diálogo – processo que está nas diretrizes da Política Nacional Integral da Saúde -, com formação continuada do trabalhador, para dar uma devolutiva à sociedade. O nosso atendimento enquanto trabalhadores do SUS nunca pode ser intolerante, misógino, preconceituoso. A gente não pode, de maneira nenhuma, perpetuar essas violências dentro de espaços como este”, completou.
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio foi inaugurado em dezembro do ano passado pelo Governo da Bahia. Todo o projeto do hospital está baseado na humanização do cuidado, nos direitos da mulher e da criança e na consolidação do Sistema Único de Saúde. O hospital é um dos mais modernos do Brasil e atende a todos os municípios da região de Ilhéus e de Valença, no baixo-sul do Estado.
Por Sérgio Aragaki
Trabalho muito importante! Racismo adoece e faz morrer. Precisa ser abordado e enfrentado cada vez mais nas instituições de saúde e de formação, dentre outros espaços.