Livros de Auto-Ajuda para Morrer

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A cada contemporaneidade a morte se apresenta sob novos matizes e cabe a cada nova geração o trabalho de criar e/ou recriar formas de se lidar com ela. Esta afirmação, a princípio óbvia, configura hoje uma situação frente às questões apresentadas pela morte e  o morrer muito diferente de antes.  Se no passado parecia haver um conjunto de concepções de mundo que oferecia um suporte psicossocial para o enfrentamento da morte, aquilo que os filósofos chamam de uma “Ars Moriendi” (arte de morrer), parece que hoje em dia essa arte se configura como um conjunto de ações e pensamentos que nos levam ao escapismo frente a tudo que a morte pode expressar.
 
 
Em sendo essa tese verdadeira, talvez isso nos ajude a entender porque livros como “Por um Fio” (Drauzio Varela), “A Última Grande Lição” (Mitch Albom) ou “A Lição Final” (Randy Pausch) se tornaram sucesso de vendas. Com objetivos relativamente distintos, eles parecem funcionar como uma auto- ajuda tanática frente a uma sociedade que não colocou como uma de suas metas socializar as pessoas para a experiência da morte. Eis então um interessante paradoxo: pelo tema estar interditado, ele suplica por ser encontrado, estudado, conhecido! Caro leitor. Se quiseres ganhar um bom dinheiro e souberes escrever, então , ensine as pessoas como morrer! Com relação a morte, estamos sem rituais. As senhas não estão claras. As certezas esboroaram!
 
 
 
A similaridade entre todos esses autores está nas conclusões que sinalizam. Para breve estaremos postando comentários para cada um dos livros que, ao seu modo, são interessantes e importantes de serem lidos.  No momento, cumpre destacar que  afirmam com todas as letras que estamos desperdiçando nossas vidas com objetivos fúteis, e a futilidade parece ser tudo aquilo que nos ensinaram a achar importante: dinheiro, carreira, prestígio. Por conta desses ícones da vida contemporânea, prestamos menos atenção em nossos filhos, na natureza e em todas as muitas belezas desse mundo.

 
A preciosidade de pensar na morte residiria justamente nisso: ao nos lembrarmos cotidianamente de que vamos morrer, nossas escolhas podem ser mais ponderadas no sentido de nossa existência e nem tanto daquilo que exigem que façamos. Não é esse  o dilema de “A Morte de Ivan Ilitch” (Leon Tolstoi,) quando o personagem em desespero descobre que a vida até aquele momento de fato não havia sido vivida e que o tempo para controlar o seu destino estava se escoando?
 
 
 
Caso o leitor queira desfrutar da auto ajuda tanática, recomendo que se comece pela ficção de Tolstoi, onde o personagem central, alguém que lentamente está morrendo, nos narra a sensação de abandono e a crise existencial de não ter descoberto a tempo o que desejaria ser na vida e não o que ele, pela força das convenções, acabou sendo. É muito difícil não se identificar com a narrativa.  E é por isso que muitos interrompem a leitura para não se compromissarem  consigo mesmo para mudar a própria existência.

 
 
 
Feita a leitura de Tolstoi, estamos prontos para receber as lições de Varella, Albom e Pasch. As terríveis conseqüências de não se lidar com a morte se apresentarão com uma nitidez avassaladora. A virtual constatação de uma mediocridade de existência poderá então nos levar a simplesmente viver a aventura dificílima, mas ao mesmo tempo maravilhosa, de tentarmos junto com a miríade de outros seres humanos,  sermos nós mesmos, como nos ensina Mario Quintana:
 
 
"As outras crianças, uma queria ser médica, outro pirata, outro engenheiro, ou advogada, ou general. Eu queria ser pajem medieval…Mas isso não é nada. Hoje eu queria ser uma coisa mais louca: eu queria ser eu mesmo!"