A medicina é sempre social? Ciclo de Estudos sobre Saúde Coletiva e Biopolítica
Pensando na temática do Ciclo, Heliana quer linkar a sua fala levantando a questão trazida por Foucault em sua vinda para o Rio de Janeiro nos anos setenta. “Uma medicina é sempre social?”, eis a questão.
Heliana conta sobre esta vinda ao Brasil em plena ditadura e aponta os efeitos que poderiam ter provocado derivas ou não sobre a produção do pensar dos brasileiros naquela ocasião e hoje no campo da saúde coletiva. O Jornal do Brasil o chamou de “homem das bordas” na época.
Em setenta e quatro, no Brasil, Foucault já usava a expressão biopolítica e somatocracia, e falava no governo das populações e do fazer viver. Isto redundou em mudanças?
Foucault foi, como poucos, capaz de lançar luz sobre a contemporaneidade. Para tanto, embora conscio de que não poderia escapar totalmente a ela, manteve com ela relacões de desconexão e dissociação, pois como diz Aganbem, a contemporaneidade é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distância. Aqueles que coincidem muito plenamente com a época, que em todos os aspectos a esta aderem totalmente, não a podem enxergar.
Assista e traga as tuas questões para conversarmos por aqui!
Heliana de Barros Conde Rodrigues – Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1972), mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1994) e doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (2002). É professora adjunta e procientista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com atuação docente nos cursos de graduação em Psicologia, especialização em Psicologia Jurídica e Pós-graduação em Psicologia Social. Professora-colaboradora do Mestrado em Psicologia Institucional da UFES, concluiu em 2011 estágio de pós-doutoramento, sob supervisão do Prof. Edson Passetti, na PUC-SP. Sua experiência principal situa-se na área de Psicologia Social, com ênfase em História da Psicologia. Dedica-se especialmente aos seguintes temas: práticas grupais, análise institucional, desinstitucionalização psiquiátrica, história oral, genealogia foucaultiana e estudos sobre produção de subjetividade. Fonte: Currículo Lattes.
Linkamos aqui outro post com uma entrevista da Judit Revel, onde fala sobre Foucault e o contemporâneo:
Sean cuales fueren las relaciones de poder en las que usted se encuentre, siempre hay libertad. Y esa libertad corresponde a lo que usted puede hacer por sí mismo. Trabajar uno mismo sobre sí mismo –lo que Foucault llama subjetivarse –el trabajo de sí mismo sobre sí mismo o sobre los otros- la relación con los otros es algo que nunca nos pueden quitar, y ese trabajo produce varios efectos, Primero usted se transforma a sí mismo y usted es el único que puede hacerlo y eso es un acto de libertad.” – See more at: https://redehumanizasus.net/66929-cronica-da-vida-cotidiana-na-rhs-profusao-de-variacoes-3-de-novembro-de-2013#sthash.w9zBdEIH.dpuf
Por Marco Pires
Bom dia,
Assisti o vídeo um pouco de madrugada, um pouco no ônibus. O You Tube é bloqueado na SMS porque parece que é perigoso agente se divertir e aprender quando está trabalhando.
Mas o debate é muito oportuno. Me parece, olhando apressadamente, que o coletivo parece indicar para um amplo movimento, onde a autonomia está implícita. Já o termo social aponta para os determinantes estruturais. Isso explica, como num contexto de repressão pelo regime militar, o primeiro termo se impôs ao segundo.
Chama atenção o jogo pelo direito a enunciação, pelo poder de nomear o contemporâneo. A maneira como o mercado de bens simbólicos, na vida acadêmica, encontra sua substãncia em parte na biografia dos intelectuais e, em parte na dinâmica própria da circulação dos conceitos.
Narrando a história ela parece revestida de um verniz mítico, quase épico. As cenas vão incorporando protagonistas a partir das provocações de Foucault e os nomes vão sendo inscritos na história. Apesar de a história não ter uma direção, não ser progressiva em nenhuma direção, os melhores de nós lutam por um lugar no “Olimpo” entre os deuses.
É essa linearidade da luta por capital simbólico que explica o tom dramático do texto que é barrado na USP e que renasce no Rio de Janeiro na escola que virá a ter o nome do autor renegado, que ressuscita como um de nossos mitos da luta pela Reforma Sanitária.
Ou seja, o que vemos como a progressão da história é a linearidade (a teleologia) de nossa contrução de sentido para os rumos de nossas vidas.
Então, os mercados simbólicos se articulam em suas próprias disputas internas. É o jogo sendo jogado. Porém, nesse momento de resisência ao refluxo fascista que nos toma de assalto, podemos pensar de forma coletiva e intervir num social extremamente desfavorável.
Obrigado pelo convite Iza!