Não Fujas

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Ah, morte!

Tu pareces

Com a mãe de todas as dores…

Ninguém quer do teu cálice

Mas a todos acompanhas…

Reis, atores e mendigos

Ficam diante de ti perfilados

 

Para que fugir de ti

Se tu nasceste comigo

Tuas mãos me acalentavam

No abrigo do útero

E a luz que encontrei

Sempre me prometeu a ti?

 

Quando morre um homem

Vou ficando menor…

Porque homem sou

Por isso não pergunto

“Quem morreu?”

Já sei a resposta

Tenho a posse

Do sal de tantas lágrimas

E com elas cultivo

Meu campo de resignação

 

Assim quando deitares

Neste leito imaculado

Onde é prometida toda a cura

Saiba que estarei contigo

Não me furtarei a tua palavra

Nem fugirei a tua corte

Nunca recusarei tuas flores

Muito menos ao convite

Da partida de xadrez

 

Pois negar-te

É negar minha humanidade

É não me ver naquele

Que tu já amparas

É não ver meu semblante

No espelho de minh’alma

Sôfrega de tempo

 

Tu és o fim dos arabescos

Acorde final…

De uma peça de Chopin

A pincelada que assina o quadro

O beijo da amante

Há muito tempo desejado

Doce libertadora

Do despojo da carne

Quero intensamente

Que o ponto final

Abra as portas

De um novo romance….

 

Erasmo Ruiz