Resenha do Artigo: O Corpo como Fio Condutor para a Ampliação da Clínica

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A presente resenha refere-se a uma atividade avaliativa da disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde do curso de Psicologia da Fisma – Faculdade Integrada de Santa Maria/RS.

O artigo intitulado “O Corpo como Fio Condutor para a Ampliação da Clínica”, pertencente ao volume 5 do Caderno Humaniza SUS, nos apresenta um interessante viés da clínica ampliada por meio da apresentação e conceituação de “corpo” como ponto fundamental deste contexto. Através da dinâmica clínica-corpo, os autores nos remetem a reflexão sobre um sujeito cronificado, onde tais sujeitos são usuários dos serviços Caps, e apresentam dificuldade de adesão. As definições de corpo e cronificação são elucidadas na passagem abaixo:

 

Inseridos nos Caps, usuários(as) egressos(as) de longos períodos de internação psiquiátrica costumam apresentar-se cronificados(as). O modo de andar, de sentar e de deitar no chão, a repetição dos gestos, das falas, o ato de tirar a roupa, de caminhar descalço, o fumar compulsivo, o olhar fixo no horizonte parecem compor sinais corporais aprendidos por meio de uma pedagogia silenciosa, reiterada, desenvolvida em longos processos de internação em clínicas e hospitais psiquiátricos. Tais gestos costumam acompanhar o corpo de usuários(as) advindos de longos períodos de internação nesses espaços, conformando uma produção cronificada do processo de adoecimento. (pg.112)

 

Neste sentido os autores evocam Foucault, o qual traz a ideia de corpo como uma “superfície de inscrição de acontecimentos”, ou seja, esses movimentos corporais repetitivos compõem um processo de subjetivação. No intuito de trabalhar esse subjetivo manifesto através do corpo, devem ser repensados os espaços físicos dos serviços, sendo neste momento de fundamental importância articular espaço, corpo e clínica.

É neste contexto que surge então através do Projeto Movimentos, uma oficina modular de capoeira, em um espaço antes não funcional de uma unidade Caps, onde foi possível verificar os usuários cronificados movimentarem-se, algo totalmente diferente do descrito e prescrito nos prontuários de suas condutas cotidianas, “a oficina de capoeira pareceu, assim, constituir um território existencial coletivo, desfazendo o aparente óbvio da mortificação daquele espaço e dos corpos que ali faziam morada”.  Assim ocorre a ampliação da clínica por meio do operador corpo, onde acontece a clínica através do encontro de corpos e não apenas da palavra.

Acreditamos que tais métodos são de fundamental importância para a inovação da pratica clínica, a qual sempre é pensada utilizando a palavra como técnica essencial, e tal artigo nos remete a reflexão de o que fazer quando a palavra não está disponível. É possível também identificar tais conceituações no filme Nise – O Coração da Loucura (2015), o qual nos remete a uma metodologia similar de intervenção, onde através das expressões dos pacientes via oficinas de artes, a médica psiquiátrica consegue fazer clínica com seus pacientes, fugindo ao tradicional atendimento.

 

Acadêmicos:

Paulo Henrique Trennepohl

Vinicius Lausmann Vargas