A Visita Domiciliar para pessoas com doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) na ESF

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     No dia 9 de setembro de 2021, eu e meu grupo de colegas acadêmicos da Graduação em Medicina da UNOESTE, visitamos a Unidade de Estratégia de Saúde da Família (ESF) Dr. Kasumaro Mushá, no bairro Jardim Morada do Sol, em Presidente Prudente, SP.

     Nós, estudantes do Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP/FAMEPP/UNOESTE) somos inseridos como membros das equipes interprofissionais, em oito Estratégias Saúde da Família (ESFs), em Presidente Prudente e Álvares Machado, graças a uma parceria firmada entre Academia e Serviço (UNOESTE e Secretarias Municipais de Saúde dos municípios citados).

     Acompanhamos três vistas domiciliares, cada uma com sua particularidade:

1.       Uma Hipertensa que fazia uso de medicamentos anti-hipertensivos e buscava os remédios na farmácia da ESF. A casa era simples, morava sozinha. Contou uma história de vida difícil. A idosa criou o neto que recentemente havia falecido em decorrência de anemia falciforme. Com a pandemia sua situação financeira havia se agravado, sua aposentadoria ficava quase totalmente restrita no banco devido à necessidade de cobrir um financiamento feito pelo neto. Relata que estava vivendo de doações e de cesta básica.

2.       Um viúvo de 61 anos, emagrecido apresentava problemas de nutrição, mora com o filho, nora e oito netos. Relata que fazia uso de bebida alcoólica, mas recentemente não utiliza mais. Relata que faz uso crônico de tabaco. A família conta que uma vez ou outra o senhor apresenta sintomas como tremores, sudorese, dores de cabeça, e que esses sintomas cessam quando ele ingere pinga.

3.       Uma viúva, hipertensa, mora sozinha e conta com a companhia da vizinha nos momentos de lazer. Relata dificuldade de fazer as atividades domésticas, já que apresenta um comprometimento cardíaco e a síndrome da dor regional complexa (SDRC).

     A partir dessas vivências, a Facilitadora utilizou o Arco de Maguerez para estimular Reflexão-na-Ação.  Nos Portifólios Reflexivos, utilizados em nossa Avaliação Formativa, que ocorre “em processo”, registramos a importância pedagógica da vista domiciliar para nos ajudar a compreender a realidade “biopsicossocial” e as Necessidades de Saúde apresentadas pelo usuário do SUS, que reside no território da Estratégia Saúde da Família (ESF). Nesse sentido, relatamos como vale a pena conhecer mais sobre o surgimento da vista domiciliar na atenção básica.

     Como estratégia nacional para a atenção básica, denominada, a partir de 2006, Estratégia de Saúde da Família (ESF), suas diretrizes passam a se contrapor ao modelo de atenção vigente, baseado na lógica curativa e medicalizante, propondo uma atenção centrada na família e no território, baseando-se em ações de prevenção das doenças, promoção e assistência à saúde. Visando à produção de novos modos de cuidado, a ESF propõe a visita domiciliar (VD) como instrumento central no processo de trabalho das equipes.

     Para Abrahão e Lagrange (2007), a ESF prevê a atenção domiciliar à saúde como forma de assistência àqueles que precisam de cuidados contínuos, mas, sobretudo, como instrumento de diagnóstico local e programação das ações a partir da realidade. Vários estudos apontam o importante papel da VD no estabelecimento de vínculos com a população, bem como seu caráter estratégico para integralidade e humanização das ações, pois permite uma maior proximidade e, consequentemente, maior responsabilização dos profissionais com as necessidades de saúde da população, de sua vida social e familiar.

     Vale conhecer, também, quais são os objetivos do Serviço de Atenção Domiciliar:

I – redução da demanda por atendimento hospitalar;

II – redução do período de permanência de usuários internados;

III – humanização da atenção à saúde, com a ampliação da autonomia dos usuários, que vai ao encontro dos Princípios da Política Nacional de humanização (PNH);

IV – a desinstitucionalização e a otimização dos recursos financeiros e estruturais da RRAS (Rede Regionalizada de Atenção à Saúde.

     Nos portifólios, refletimos e registramos que a Estratégia Saúde da Família (ESF) se mostra como a “porta de entrada” para os serviços de atenção básica para a população adscrita. Dessa maneira, percebemos que, dentre as formas de atuação da equipe interprofissional está a realização de Visitas Domiciliares (VD), cujo seu estabelecimento se faz a partir das necessidades de saúde, apresentadas pelos usuários.

     Em nossas reflexões, no Portifólio, percebemos a importância da visita domicilar para garantir os princípios do SUS e da Rede Regionalizada de Atenção à Saúde (RRAS), que são universalidade de acesso ao serviço de saúde, equidade no cuidado e integralidade.

     Nós estudantes, consideramos como positiva a realização de Visitas Domiciliares para pessoas com DCNTs no território de saúde da ESF. Conseguimos criar vínculos de respeito e confiança com os usuários do SUS, que demonstraram satisfação em nos receber.

BIBLIOGRAFIA

BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso: 14 de setembro de 2021.

BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Portaria nº 825, de 25 de abril de 2016. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0825_25_04_2016.html. Acesso: 14 de setembro de 2021.
CUNHA, M. S.; SÁ, M. C. A vista domiciliar na Estratégia de Saúde da Família: os desafios de se mover no território. Revista Comunicação Saúde Educação, v. 17, p. 61-73, 2013.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderno de Atenção Domiciliar. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, v. 2, p. 7-15, 2013.