O abismo pandêmico

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Há cem anos uma variante nova do vírus influenza causou uma pandemia que matou dezenas de milhões de pessoas no mundo todo. Não podíamos contar com os antibióticos, antiinflamatórios, nem vacinas. Foi devastador, mas epidemias e pandemias ameaçam a civilização e a espécie humana por centenas de milhares de anos.

Quando as viroses comuns na Europa chegaram aos povos originários das Américas, a partir de 1492, cerca de 9 em cada 10 pessoas morreram entre os povos indígenas. Para aquelas civilizações o fim do mundo já aconteceu, como afirma o antropólogo Ailton Krenak.  Isso é o que aconteceu quando a imunidade da população ameríndia entrou em contato com um novo agente patogênico.

O novo Coronavírus é especialmente infeccioso. De fato é isso que o torna diferente das versões que já eram conhecidas antes do final de 2019.

Existe o perigo de que a circulação do Coronavírus entre os jovens possa dar origem a uma mutação com uma letalidade muito maior do que a atual e resistente, tanto a imunidade de quem já foi contaminado, quanto das pessoas já vacinadas.

A volta às aulas em 2021 é a oportunidade perfeita para que essa possibilidade se torne realidade. Nesse caso os cerca de 2 milhões de pessoas letalmente vulneráveis a Covid-19 poderiam crescer para dezenas de milhões de pessoas. A variante surgida em Manaus pode derrotar as vacinas desenvolvidas até agora. A situação está sob investigação e logo saberemos a resposta.

O descaso do governo federal já adicionou uma grande quantidade de óbitos à contagem final de mortes por Covid-19 ou suas sequelas. Mas o potencial total dessa crise pode ser inimaginável.

Alguma versão daquela doença respiratória para a qual os povos originários da América não possuíam nem uma imunidade há meio milênio, ainda causa mortes em pessoas idosas ou imunodeprimidas até hoje. Por isso existem campanhas anuais de vacinação para a gripe sazonal.

Que a população do planeta possa precisar de vacinação periódica para novas variantes do Coronavírus é uma questão ainda em aberto. Além disso, pessoas acometidas pela Covid-19 mais de uma vez, podem sofrer mais a cada infecção independente da idade, como ocorre nos casos de dengue hemorrágica.

Apesar das certezas dos negacionistas da ciência, a incerteza e a precaução são as únicas formas de proceder em termos pessoais e políticos quando o assunto envolve epidemias num mundo hiperconectado e com quase oito bilhões de habitantes.