Os outros não são o inferno

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Não ser bom não implica em ser mal. A implicação de estar associado, em relação, com algo ruim é a de não ser livre naquele contexto.

Ser mal exige um nível de percepção capaz de permitir um elevado grau de consciência situacional, uma ideal ausência de ilusões, e contudo, produzir o ruim.

A maldade, portanto, estaria ao alcance de uma mente portadora de onisciência capaz, por sua vontade livre de produzir o mal.

Uma tal divindade está além da possibilidade do julgamento moral de um religioso por razões óbvias. E, para um agnóstico ou ateu, está além tanto do julgamento moral, quanto do próprio critério de existência.

O mal e o prazer da maldade que observamos é uma evidência da incapacidade de conhecermos em absoluto o que, de fato, constitui a possibilidade de nossa existência.

A maldade é um sinônimo para doença toda vez que a possibilidade da liberdade de escolher entre alternativas é interditada por um contexto que impede a reflexão crítica.

Ser livre consiste em, estando em um contexto dado a priori, (sempre social e determinado no tempo e espaço) ser capaz de escolher entre alternativas disponíveis. Não tem, portanto, relação com fazer o que queremos, mas sim em identificar e modular conscientemente esses mesmos desejos.

A lei da gravidade e nossos impulsos desejantes são existentes com os quais precisamos lidar. Sobre esses dois entes e todos os outros, o fato é que existem. São mais ou menos suscetíveis a nossa ação e, evidentemente, dados antes e após nossa existência individual.

Assim, a liberdade nunca é unilateral ou independente. Ela é social no sentido em que se dá na diferença de perspectivas e se direciona ao outro.

A liberdade, desse modo, não é contraditória com a sociabilidade, mas emerge de nossas relações sociais. Do mesmo modo que um humano só pode surgir e existir a partir da existência de outros humanos, o modo livre de existir é consistente e não contraditório com nossa sociabilidade.

O sentido da liberdade é comunitário porque seria impossível agir livremente fora do contexto da relação com outros seres.