“A Dama e a Morte”: Falando sobre o Morrer com Trabalhadores de Saúde

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 A morte é um tema que a primeira vista parece muito difícil de ser abordado. Duvidando dessa afirmativa, basta que você fale diretamente sobre o assunto num almoço de família. Será rapidamente convidado a mudar de assunto: "que conversa idiota é essa?", "tanta coisa para se conversar!"; "Isola, bate na madeira".

 

No trabalho em saúde, paradoxalmente, acontece fenômeno similar. Os trabalhadores, apesar de muitas vezes lidarem com pacientes a beira da morte, agem como se nada estivesse acontecendo. A arte de fugir da morte é exercida na presença daqueles que vão morrer, seja numa conspiração silenciosa entre trabalhadores de saúde e familiares que impedem a autonomia do paciente, seja pela incapacidade de se  buscar novas instâncias e possibilidades de se lidar com a morte já que estaria consagrado o ethos de se lutar contra ela a qualquer preço: "enquanto houver vida há esperança!".

 

Mas enquanto houver vida, deve haver a dignidade de poder vive-la, com dor e sofrimento sendo atuados de forma adequada. Um primeiro passo para isso é falar sobre aquilo que ninguém quer falar. Avaliar os "ruídos", pensar nas possibilidades de se trabalhar de forma diferente. Não é esta a luta da PNH? Buscar novas formas de trabalho em saúde como uma condição fundamental para produzir em termos práticos o que se entenderia por trabalho humanizado? Assim, como humanizar o trabalho no entorno da morte.?

Caso você que esteja lendo este texto possa por algum momento refletir sobre esta questão, um primeiro passo seria asssistir esta animação espanhola de curta metragem que ganhou um Oscar esse ano. Ela pode servir para aquecer um bom debate entorno de questões sobre a morte e o morrer que acontecem no seu trabalho. Você deve estar se perguntando, por que um desenho ,animado, produto aparentemente feito para crianças, poderia ser usado para isso?

 

Bom, em primeiro lugar, essa animação está longe de ser algo infantil embora acredite que as crianças possam acha-la divertida, até porque toda a linguagem básica da animação está ali: ritmo, ação e uma boa história.

 

Uma senhora muito idosa relembra do marido já falecido. Adormece e morre serenamente. E lá está a morte a leva-la para os caminhos do além quando, repentinamente, algo parece sair errado. O médico a ressuscita! A partir dai é um frenesi alucinado, uma luta sem quartel entre a morte e os trabalhadores de saúde. Bom, vou parando por aqui pois não quero tirar o prazer de quem irá ver o desenho pela primeira vez. Mas inúmeras questões bioéticas podem ser trazidas a baila pelo desenho: 

1) O Direito de Morrer com Dignidade

2) A Obstinação Terapêutica

3) O Tratamento Fútil

4) O Narcisismo do Trabalho em Saúde, em Particular de Alguns Médicos

5) Até Onde Podemos Atuar Terapeuticamente

6) A  Problemática da Distanásia

 

Claro, muitas outras questões podem ser refletidas a partir dessa animação de apenas 8 minutos. Mas, depois de uma boa discussão os trabalhadores podem ser levados a pensar sobre o que acontece no serviço quando um paciente está morrendo e, posteriormente, quando a morte ocorre. Mais especificamente, como a morte de pessoas estrutura processos de trabalho? Em que aspectos essas formas de se trabalhar geram gestos individuais e/ou coletivos que poderiam ser considerados desumanos? E uma pergunta que sempre cala fundo: caso o paciente que estivesse vivenciando a experiência da morte fosse alguém importante para mim, como julgaria o trabalho realizado pela equipe? E, por fim, o que podemos fazer em termos práticos com relação ao trabalho e a forma como é organizado para humanizarmos o lidar com  a morte e do morrer nos serviços?

 

Deixo com vocês então o filme no  Youtube no lnk abaixo:

 

 

Eu costumo descer vídeos do youtube usando o Atube Catcher. Vocês podem baixa-lo aqui:

https://www.baixaki.com.br/download/atube-catcher.htm

 

O programa é muito fácil de usar. Basta seguir as instruções postas no site e depois colocar o arquivo num pendrive e passar para todo mundo (um projetor pode tornar a tarefa mais com jeito de cinema)

Bom, como se dizia na Turma do Pernalonga: "Por enquanto é só pessoal"!