Redução de danos
A preocupação minha, de início, é que a informação sobre redução de danos (RD) vem chegando muito mal em meu ambiente de trabalho. Resumindo o incomodo digo que a última discussão passava pela questão da liberação do uso de tabaco por adolescentes internados via poder judiciário. Pelo que se sabe dos adolescentes, todos faziam ou fizeram uso de substancias ilicitas (o tabaco é ilicito para menores de 18 anos), poucos manifestaram serem tabagistas no momento da internação, todos passaram a reinvidicar a liberação do tabaco e todos que não fumavam passaram a exigi-lo. Ao que pese o desconforto de não se ter indicação clínica para internação especializada na maioria dos casos, desconfio que a política de redução de danos não pode ser usada para justificar o uso do tabaco como moeda de troca entre os usuários do sistema e seus operadores imediatos. Não consigo organizar melhor a questão ainda. Mas creio que a discussão entre pares interessados seria desde já preciosa.
Por Dênis Petuco
As questões que seu texto sucita são relevantes Ângelo. Acho que a RD tem muitas contribuições para o cuidado de pessoas que usam álcool e outras drogas, dentre as quais eu destacaria uma "ética do acolhimento", ou seja: se as pessoas com quem lidamos não conseguem ficar em abstinência, isto não significa que vamos expulsá-las.
Crianças e adolescentes não deveriam usar drogas, de espécie alguma. Isto é fato. Entretanto, sabemos que muitas as usam. O que fazer nestes casos? Quando é possível impedir o acesso, creio que se deve fazê-lo, e quando não é possível, deve-se acolher aos jovens que usam, e seguir problematizando as questões junto com eles. Não concordo que se deva criar algo como fumódromo em serviços especializados para crianças e adolescentes, mas ao mesmo tempo não dá pra simplemente não tocar no assunto. Quando se trata de serviços do tipo "porta aberta", é preciso perceber que as crianças e adolescentes vão usar em suas saídas.
E quando o serviço for de internação, da alçada da justiça, um serviço que trabalha com a reclusão de crianças e adolescentes… Bom… Estes serviços deveriam mesmo existir? Há algo mais danoso a uma jovem do que ser preso? Diante da prisão, nicotina é fichinha…
Para encerrar: RD nunca pode ser uma moeda de troca. É uma estratégia de cuidado, uma diretriz. Se ela for usada como moeda de troca, tá mal.
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