A pesquisa do IPEA e a crise da saúde.

14 votos

Depois da leitura da coluna de Elio Gaspari em nosso Correio do Povo de domingo, aqui no Rio Grande do Sul, resolvi transformar em post esta parte da resposta ao comentário da Ana Rita Trajano ao post redehumanizasus.net/11658-a-identidade-do-trabalhador-da-saude-na-midia escrita ainda ontem à noite.

Faço no final algumas considerações baseadas na referida coluna que tem por título: O SUS é melhor avaliado por quem o usa. Vale buscar o texto que na íntegra me parece que só está disponível para os assinantes, por enquanto. Então passo o Link com a fonte usada por Gaspari: www.ipea.gov.br/portal/index.php.

E desejo a todos uma boa leitura de minha avaliação pessoal da pesquisa que em parte coincide com a do eminente jornalista:

Parece que a opinião publicada se impõe e define o que costumamos chamar de opinião pública. A pesquisa do IPEA revela isso de forma exemplar.

De um lado a mídia favorece o sistema de saúde complementar ao veicular matérias que distorcem a percepção do SUS, criando um impacto no imaginário coletivo em que o medo e a desconfiança do que é público prevalecem.

Neste cenário de medo, quando há crescimento econômico, como é o caso no momento, a população beneficianda investe seu ganho de renda em convênios privados de saúde. Pois a parte que avalia o SUS negativamente é justamene a que tem seguro de saúde privado, segundo a pesquisa do IPEA.

Seja porque quem julga, não conhece o SUS por nunca ter usado, ou por que precisa criar a "sensação" de que seu ganho de renda lhe trouxe mais segurança em termos de atenção à saúde. Mas é uma avaliação em parte induzida por uma percepção imprecisa do SUS.

Não por acaso, os dados da pesquisa do IPEA apontam que a população que é usuária do SUS (sem opção de conciliar a conveniência de consultório pagando um seguro privado) é a que melhor avalia o SUS.

A Estratégia de Saúde da Família é a melhor avaliada dentro dos inúmeros serviços do SUS. Um recurso claramente público e de fácil identificação e formação de vínculo com a população usuária.

Já a população que tem de usar os serviços de média e alta complexidade sofre pela dificuldade de acesso e pela indefinição do que é público e do que é privado.

Dados  do IBGE indicam que os serviços de diagnóstico por imagens aumentaram em cerca de 40% de 2000 à 2005.  A remuneração de seus serviços é feita em valores de mercado pelo SUS. E nos convênios privados a maioria dos planos exige uma espécie de franquia para acesso a este tipo de serviço além da mensalidade do plano de saúde. Então quem comprou estes aparelhos precisa pagar o investimento feito pondo os aparelhos de diagnóstico a funcionar ininterruptamente.

Os médicos se dispõe a fazer a solicitação massiva de exames, pois tem pouco vínculo com a legião de usuário que lhes consultam. De um lado encarecem a prestação de serviços, e de outro, trazem para a fila de tratamento um contingente de pessoas que de outra forma seguiria adoecendo até a morte.

Pelas caminhadas entre um serviço e outro os pobres vem a saber que estaria a faltar uma quimioterapia, uma cirurgia, um trabalho de reabilitação ou outras das tantas variedades e tipos de recursos terapêuticos que estão a ser descobertos todos os dias.

Pode ser, além de tudo o mais que certamente é, uma corrida desmesurada em busca de doentes para pagar os investimentos realizados, muitas vezes com isenção de impostos.

Aqui é que a pesquisa do IPEA revela que tudo fica mais confuso do que na saúde básica. As unidades de saúde que abrigam especialidades são confundidas com emergências de hospitais ou pronto atendimentos pela população.

Além disso, há uma série de centros de excelência em diversas áreas da atenção que ocupam os pontos de concentração de recursos investidos ao lado, ou alguns andares acima, de emergências superlotadas. Alta tecnologia e excesso de horas extras, sobrecarga de trabalho, falhas humanas, transplantes, reabilitação, tudo ocorre no mesmo lugar.

Assim os dados da pesquisa do IPEA podem parecer num primeiro olhar desfavoráveis a uma grande parte dos serviços do SUS. Mas está longe de ser esta a realidade.

Olhando os dados da pesquiza mais de perto vemos que quem não aprova, não conhece o SUS que dá certo. Por outro lado, o usuário dos panos privados parece não querer ver que seu convênio de saúde lhe oferece algumas comodidades de consultório e hotelaria, mas passa a sociedade o custo dos procedimentos mais complexos. 

No final, considerando a população usuária do SUS e a que pensa não usá-lo nunca, o índice de aprovação é semelhante ao dos serviços de telecomunicação, do setor aéreo e dos serviços financeiros. Além de serem números semelhantes, em termos de aprovação, ao ídices de países europeus  e um pouco melhores que os dos serviços públicos e privados dos EUA, segundo Elio Gaspari divulga em sua mais recente coluna.

Analisando bem vemos que há muitos motivos para nos sentirmos reconhecidos pela população usuária do SUS. Há ainda, motivos para se orgulhar de ser servidor público. E muito o que fazer para que todos que trabalham na área da saúde se reconheçam como servidores públicos, desde que pagos com recursos destinados ao SUS.