CAPS : um lugar de produção de vida

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                  CAPS – APRENDENDO A PERGUNTA

       O texto ” CAPS : aprendendo a perguntar ” , de autoria  de Silvio Yassui, irá mostrar, o histórico em que emerge o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) numa região de São Paulo (SP), que servirá de inspiração para o modelo dos CAPS criados posteriormente pelo Ministério da Saúde. Aqui, irei  correlacionar certas partes do texto que inquietaram-me com estudos realizados no espaço acadêmico da disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde, coordenada pelo professor Douglas Casarotto de Oliveira. Também, elencar a minha experiência de estagiária de psicologia no CAPS-ad II  Caminhos do Sol na região de Santa Maria-RS.

 Então, o que é um CAPS ? O que nele se pretende ? Como vê-lo ? 

 Começar a descrevê-lo, segundo Silvio Yassui, é como descrever uma viagem quando nela ainda se está; pois nesta emerge uma multidão de imagens, sentimentos e recordações as quais vão de encontro à esforços de objetividade. Assim, o CAPS é um espaço de referência teórica, afetiva, prática, existencialista ; e, sobretudo um lugar onde se problematiza os saberes, conhecer diferentes linhas e possibilidades de pensar e agir , expor contradições, inseguranças, incertezas e conflitos em geral  – como em todo o envolvimento que se estabelece na relação ao outro. Por esse ponto, partimos à conhecer, identificar e definir um Centro de Atenção Psicossocial, quando é possível de dúvida em dúvida começar a aprender a perguntar sobre esse lugar. Com isso, remeto-me a seguinte idéia na frase de Guimarães Rosa : ‘‘Eu quase nada não sei. Mas desconfio de muita coisa’’. Portanto , quero dizer que , apesar de não estar totalmente apropriada (por não ser formada ainda na área de psicologia ) de todo o contexto que o CAPS trás consigo, desconfio de tudo que acontece no seu plano. Logo, tudo que envolve esse espaço faz com que eu problematize questões acerca do mesmo; bem como a toda rede de saúde mental que está entrelaçada à ele.

  O CAPS-ad II Caminhos do Sol, tem uma história nova; pois, apesar de ter sua homologação aprovada em dezembro de 2002, iniciou suas atividades somente em janeiro de 2003; ele é resultado de uma tríade que deve garantir condições de funcionamento do mesmo – composta pelo Governo Municipal, Estadual e Federal. Assim, o objetivo desse CAPS-ad de Santa Maria está relacionado com o projeto inicial do CAPS paulistano prevendo atividade assistencial ao sujeito e oferecida em todo território brasileiro; levando em conta sempre, a especificidade e identidade de cada contexto que esse sujeito está inserido. Estes, surgiram, então,  como uma proposta de atendimento diferenciado e como o início de uma rede de espaços intermediários entre a hospitalização, com seus riscos de cronificação e segregação, e o pleno exercício da cidadania.

  Os objetivos de ambos os CAPS, perpassa por : promover a reabilitação psicossocial, por meio da reinserção social dos sujeitos ( usuários da rede), com disposição de um serviço especializado no tratamento de dependência química; logo, são serviços de saúde mental destinados ao tratamento de dependente de álcool e outras drogas que caracteriza-se por uma proposta de atenção que, surgindo a partir do movimento da Reforma Sanitária, constitui-se desde então como principal estratégia de atendimento a esta população de usuários. Portanto, ambas as redes visam ser e funcionar como uma unidade que desenvolve um trabalho qualitativamente distinto das práticas e modelos de atendimento em saúde mental na rede pública. Neste campo, o usuário é o centro da atenção; e o que se viabiliza nele não é somente o seu sintoma, mas todo o seu sofrimento, a singularidade e subjetividade que se carrega, e que nele encontra-se embutido. Deste modo, o CAPS funciona por uma atenção integral, na medida em que entende sua função de saúde como reabilitação psicossocial. Mas, mais do que isso, o espaço tem como um dos seus importante princípios e diretrizes o conceito de  integralidade – a qual consta na Lei nº 8.080,Cap.II, da Constituição Federal que dispõe sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Então, dentro do contexto do CAPS, a integralidade é o entendimento de forma integral do sujeito, pensando não necessariamente na doença em si, mas ao processo existencial e à transformação deste, no sentido de produção de saúde. 

  Finalmente, um Centro de Atenção Psicossocial é um espaço histórico, com atravessamentos, com relações de diferentes âmbitos e intensidades, um lugar que se desvela, também, dificuldades cotidianas, reflexões sobre a prática de cada profissional ( que está centrado numa equipe multiprofissional, com específicos saberes ), bem como as abordagens e posições teóricas, técnicas , políticas, entre outras visões, de cada uma delas. Sendo assim, o CAPS é um lugar de trabalho, de produção de sentidos, invenção, interação, intervenção, encontros, buscas, prazer, envolvimento e integração – sempre se pensando no vínculo entre profissionais-usuários. Diante disso, aprendemos e devemos, nas nossas práticas em saúde mental, a ousar; a correr o risco de se lançar sobre tudo aquilo que a envolve. E, assim, afirmo que esse trabalho só é construído pelo produto de uma reflexão coletiva da equipe, que pretende integrar o sujeito novamente à sua sociedade e lugar de origem ; ao não excluí-lo como um ser de envolvida loucura, desse espaço.