Uma conduta humanizada

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Boa noite pessoas!

Publiquei esse texto no meu blog no dia 18 de Junho e nesse período ainda estava na luta com meu avô e sua saúde fragilizada. Fiz esse post depois de ficar extremamente contrariada com um médico residente. Quando somos pacientes ou acompanhantes de um paciente, nosso olhar muda e como muda…

Uma conduta humanizada

Não posso te negar o prazer de comer se muitas vezes é nele que você consegue jogar toda sua tensão do dia a dia;

Não posso dizer que é proibido o que na verdade só deve ser evitado;

Não posso te indicar algo que não confio como profissional ou que ainda não tenho segurança para lhe propor;

Não posso resumir sua vida em uma planilha de dieta ou ainda querer que você coma exatamente o que propus;

Não posso impedir seu livre arbítrio de querer ou não seguir uma orientação adequada pelo menos do ponto de vista nutritivo;

Umas das coisas que mais me machucaram quando estava no hospital com meu avô foi uma conversa que tive com um residente de medicina e na qual eu pedia para que a dieta de vovô não fosse totalmente restrita em sódio, pois a única coisa que ele comia no dia era 300 ml de sopa e mais alguns mingaus, e se essa sopa estivesse sem sal ele apenas comia 150ml ou não comia.

A conversa foi mais ou menos assim: Gostaria que a dieta de meu avô não fosse totalmente restrita em sal, pois mesmo sabendo que se trata de uma ICC e ele ainda está edemaciado, o mesmo não está quase se alimentando e praticamente a única refeição fonte de sódio durante o dia são as duas sopas. Acho que é necessário ver o paciente como um todo e não apenas os seus sinais clínicos aparentes porque se ele não come é bem pior.

Resposta dele: É, mas é isso que você não está fazendo, eu estou vendo o paciente como um todo e sei que ele deve consumir no máximo 2g de sal por dia para evitar complicações no seu estado.

Se tem uma coisa que odeio são números (parece político fazendo campanha eleitoral)! Quando ele disse isso sobre os 2g (rsrsrs) eu questionei se realmente esses 2g estavam vindo nas duas sopas do dia. Gente pelo amor de Deus, naquele momento eu só queria dar prazer ao meu avô diante de todo sofrimento. É isso que falta sabe… As pessoas procurarem ver o lado humano dos outros e não ficar se baseando em números e referências. Naquele momento nada daquilo fazia sentido para mim. Não existe nenhum tratamento humanizado nessa conduta, apenas muita resistência e imaturidade diante da vida. Mas deixa quieto, tudo isso passou e em casa meu avô pode ter os momentos de maior cuidado e amor. Não é por termos conhecimento que temos a razão absoluta sobre tudo, é muito mais importante na vida termos o direito de ser ouvido.

Texto originalmente publicado em ginettaamorim.wordpress.com